Cris Britto e André Barros:
“Sinto falta absurda de conviver com
seu olhar do mundo e sobre mim”
Cris Britto, André Barros e os três filhos em
uma viagem de férias no ano passado
Publicação compartilhada do site JLPOLÍTICA/Coluna Aparte*, de 7 de agosto de 2025
Sem André Barros e com três filhos adolescentes, Cris Britto promete volta por cima: “Sou otimista por natureza”
No último dia 17 de junho, o jornalista e publicitário sergipano André Barros, 61 anos, deu adeus a esta vida. Ao partir, além de duas filhas adultas do seu primeiro relacionamento, deixou para trás a companheira dos últimos 20 anos, a jornalista Cris Britto, 43 anos, e três filhos adolescentes - Luiza, de 16 anos, Clara, de 15 anos e Daniel, de 12 anos.
Para Cris Britto, a perda do marido foi um baque daqueles. Além de toda química e cumplicidade que os dois afetivamente tinham, da responsabilidade mútua de criar três filhos, os dois atracavam-se braçalmente em atividades funcionais da comunicação social, de que vivem. Não lhe deixou herança material, sequer uma aposentadoria.
Além do trabalho que tocavam em emissoras de rádio dos outros, eles empreendiam deles mesmos o Portal Sergipe Notícias, a rede social Notícias Exclusivas e uma agência de assessoria de comunicação que absorvia mais a mão de obra Cris - uma jornalista que, apesar do pouco tempo de profissão, tem um leque enorme de atividades já exercidas e de espaços ocupados.
Muitíssimo sentida com tudo o que se deu com o esposo e parceiro de vida e de empreendimento, Cris Britto se mostra forte e disposta a ir à luta, botar os negócios em ação e tocar sua vida pessoal e dos seus adolescentes. Com zero de lamúrias e de vitimização.
“Eu preciso dar continuidade ao trabalho que sempre foi feito. Essa já era uma atividade que fazíamos juntos, mas que era fortalecida pela atuação que ele tinha no rádio. Sem a presença de André, preciso encontrar outras ferramentas para potencializar o alcance das publicações”, diz Cris Britto numa entrevista exclusiva à Coluna Aparte.
“Sou jornalista capaz, sei falar, sei vender, escrever e palestrar. Portanto, só preciso correr atrás de novos contratos e oportunidades. Tudo continua funcionando e com todas as certidões em dia. Esse é o meu principal sustento hoje e eu preciso que esteja ativo e regular para prover negócios e manter a família que agora depende somente de mim”, reforça.
Ela sabe da barra pesada que é esse fardo. “Imagine que além de atender os clientes, gerenciar crises e produzir conteúdo, preciso fazer a prospecção de novos clientes, o atendimento comercial, cuidar do faturamento e financeiro. Conciliar tudo é difícil, mas eu descobri que nasci capaz de lidar com esse tipo “de difícil””, diz ela.
Cristine Britto Medeiros nasceu em Salvador, Bahia, no dia 19 agosto de 1981. Ela formou-se em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, em 2004 pela Universidade Tiradentes e tem pós-graduação em Assessoria de Comunicação e pós-graduação em Gerenciamento de Crises pela FAAP. Veja a seguir o resultado de uma conversa muito sensível e direta entre ela a Coluna Aparte.
Aparte - E agora, Cris, qual é o seu planejamento de vida profissional sem a presença do seu companheiro André Barros?
Cris Britto - Eu tenho uma empresa que presta serviço de assessoria de comunicação desde o ano de 2009 e tenho clientes que estão comigo desde a fundação dela. Além disso, eu e André criamos juntos o Portal Sergipe Notícias e a rede social Notícias Exclusivas, que sempre foram canais de distribuição de notícias com grande alcance. Eu preciso dar continuidade ao trabalho que sempre foi feito. Essa já era uma atividade que fazíamos juntos, mas que era fortalecida pela atuação que ele tinha no rádio. Sem a presença de André, preciso encontrar outras ferramentas para potencializar o alcance das publicações. Nesse momento, estou formatando um sistema de distribuição de notícias por meio de disparo automatizado de envio de mensagens via API do WhatsApp, o que aumenta a métrica em pelo menos 30% no tráfego dos usuários.
Aparte - Ele deixa patrimônio, pensão ou aposentadoria, que ajudem a senhora a tocar a vida com os três filhos adolescentes?
CB - Infelizmente, não deixa. Desde que nos conhecemos, André era autônomo e não investiu em previdência privada, então não existe pensão. Ele também não deixa herança e muitos dos contratos que ele tinha foram cancelados depois do seu falecimento. Tudo que tenho é a minha casa, que inclusive é financiada, a minha força e a capacidade de trabalho. Sou jornalista capaz, sei falar, sei vender, escrever e palestrar. Portanto, só preciso correr atrás de novos contratos e oportunidades.
Aparte - Como é que ficaram, estruturalmente, o Portal Sergipe Notícias, o Perfil Notícias Exclusivas e a assessoria de imprensa que a senhora e ele tocavam desde 2009? Estão ativados e em dia com as obrigações fiscais?
CB - Sim, tudo continua funcionando e com todas as certidões em dia. Esse é o meu principal sustento hoje e eu preciso que esteja ativo e regular para prover negócios e manter a família que agora depende somente de mim.
Aparte - A senhora terá tempo, disponibilidade e necessidade de empreender tudo isso?
CB - Eu tenho uma pequena equipe que me auxilia a manter tudo funcionando, mesmo assim é desafiador. Imagine que além de atender os clientes, gerenciar crises e produzir conteúdo, eu preciso fazer a prospecção de novos clientes, o atendimento comercial, cuidar do faturamento e financeiro. Conciliar tudo é difícil, mas eu descobri que nasci capaz de lidar com esse tipo “de difícil”.
Aparte - Qual é o seu traçado pessoal e funcional nestes 23 anos em que é uma profissional de comunicação social? O que fez e por onde passou?
CB - Ainda universitária, passei pela assessoria do Ministério Público e da Fundação Nacional de Saúde, onde cheguei a ser contratada como jornalista anos depois. Trabalhei no Sistema Atalaia em 2003 como produtora e repórter, fui para TV Cidade onde entrei estagiaria, fui efetivada e me tornei produtora, repórter e apresentadora - foi inclusive como apresentadora que eu e André nos conhecemos, apresentando um programa chamado Fala Cidade. Trabalhei na assessoria de diversos órgãos públicos, como a Secretaria de Combate à Pobreza, Secretaria Estadual de Administração, Secretaria Estadual de Educação, onde compus o Núcleo de Produções Gráficas da Seed. Também trabalhei em veículos impressos importantes que me foram extremamente enriquecedores, como jornal Cinform e Jornal da Cidade. Fiquei como editora de Caderno Especiais por 10 anos, atividade que me dava enorme prazer. Tudo isso me fez conhecer muita gente bacana. Também trabalhei na produção de programas de rádio com André. Há 16 anos abri a minha empresa de assessoria de imprensa e criamos o nosso Portal Sergipe Notícias.
Aparte - A senhora e André dividiam as realidades e a gestão dos negócios ou a senhora vai ter de pegar tudo da estaca zero?
CB - André era publicitário, além de jornalista, por isso ele era quem cuidava das propostas, dos envios de comprovações de mídia, das negociações com agências e clientes e eu ficava mais voltada para a parte de conteúdo e produção de material dos clientes. Hoje estou tendo que cuidar de tudo.
Aparte - Há entre seus filhos algum, ou especificamente alguma das duas meninas, já em fase de poder lhe ajudar a tocar o barco dos negócios?
CB - Nesse momento, ainda não porque a mais velha está no ensino médio se preparando para o Enem no próximo ano e passa a maior parte do dia no colégio em aulas, simulados e monitorias. Os outros dois ainda não tem a maturidade de assumir as funções. Mas quem sabe, em breve, algum deles se identifique ou se interesse por essa atividade e venha trabalhar comigo.
Aparte - A senhora acha que vai ser difícil ou fácil fazer as coisas andarem a bom termo?
CB - Acho que nada vem fácil e eu tenho o desafio de colocar meu nome em evidência para que aqueles que não me conhecem tenham a oportunidade de conhecer meu trabalho. Mas sei do que sou capaz, tenho disposição, não tenho medo de trabalho e sou otimista por natureza.
Aparte - A senhora tem emprego público via concurso, ou coisa parecida?
CB - Não. Já trabalhei na esfera pública, mas em cargos de confiança por onde fiquei por aproximadamente sete anos e entreguei o cargo um tempo depois que meu filho mais novo nasceu. Fiz isso pela incompatibilidade de cuidar de três crianças muito pequenas e manter três empregos, à época.
Aparte - Não lhe assusta o avanço efetivo e progressivo da desregulamentação da profissão de jornalista?
CB - Honestamente não me assusta, porque acredito que quando as pessoas precisam de informação de qualidade e exatas irão buscar fontes confiáveis. Também acredito que o bom profissional sempre terá espaço e respeito dentro do mercado. O que eu acho mesmo uma temeridade é o desenfrear das fake news em grupos de WhatsApp como ferramenta de guerrilhas. E agora com as novas ferramentas de IA, o céu é o limite.
Aparte - Como era André Barros como pai e como companheiro?
CB - Incrivelmente amoroso, carinhoso, dedicado, sensível, absolutamente devotado, generoso e presente. Construímos uma relação de muita parceria e cumplicidade nos nossos 20 anos juntos - ele era parceiro, sócio, marido e protetor. Tentava blindar a todos nós de qualquer problema e fazia tudo pelos filhos, do tipo que daria a própria vida por qualquer um deles.
São muitas camadas de saudade, legado, amor, aprendizado, conexão e admiração. Sinto uma falta absurda de conviver com o seu olhar do mundo e sobre mim. Em mim, ainda ressoa sua voz quando me dizia: “Se esperavam de mim alguém menos apaixonado, desculpem desapontá-los. No fundo eu fui até contido”.
Aparte - Perdão, Cris, se a pergunta lhe faz sofrer por evocar, mas afinal, de que morreu André Barros: da rejeição ao implante renal ou do linfoma?
CB - Na verdade, de nenhuma das duas causas. André nasceu com uma condição genética que lhe fez perder a função renal de forma precoce. Em 2023, fez um transplante renal bem sucedido e teve a oportunidade de renascer a partir desse milagre que é a doação de órgãos. Mas ao final de 2024 fomos surpreendidos pelo diagnóstico de um linfoma de Não Hodking de um tipo agressivo. Iniciou o tratamento de quimioterapia e passou pelo transplante de medula óssea. Tudo corria bem, ele estava em recuperação clínica, trabalhando, comendo, fazendo fisioterapia, mas perto da alta contraiu um vírus respiratório no hospital que agravou rapidamente em virtude da sua imunossupressão. Ele morreu em remissão completa do linfoma e com o rim transplantado em funcionamento.
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* Articulista, da coluna Aparte, Jozailto Lima, é jornalista há 42 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Com colaboração da jornalista Tatianne Melo.
Texto e imagens reproduzidos do site: jlpolitica com br coluna aparte
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