sábado, 18 de novembro de 2023

Irandir: “E só diga que é sucesso depois que você ouvir aqui...”

Legenda da foto: Irandir foi feito pelo carinho do público ouvinte um dos mais renomados apresentadores de rádio do Nordeste, especialmente, de Sergipe

Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 17 de novembro de 2023

Irandir Santos: “E só diga que é sucesso depois que você ouvir aqui...”

Por Mário Sérgio Félix

Como diria Roberto Carlos em uma de suas músicas mais famosas e de sucesso: “Essa frase (a que dá título a esse texto) vive nos cabelos encaracolados d as cucas maravilhosas”. As cucas dos ouvintes. E vivia mesmo.

O dono da frase “e só diga que é sucesso depois que você ouvir aqui” tornou-se um dos maiores radialistas e tem seu nome cunhado em ouro na radiofonia sergipana: Irandir Santos.

Dono de um timbre inconfundível, de uma qualidade musical incomparável, Irandir foi feito pelo carinho do público ouvinte um dos mais renomados apresentadores de rádio do Nordeste, especialmente, de Sergipe.

Baiano, Irandir chegou moço em Aracaju. O gosto pela rádio o tornou um ícone da nossa radiofonia e logo-logo começou a fazer escola.

A partir dos anos 1970, cria uma marca inconfundível e uma identidade que o faz líder em seu horário da tarde, não só em Aracaju, mas em todo o Estado de Sergipe.

Ao começar o programa com o BG “Moliendo Café”, composição do venezuelano Hugo Blanco, na interpretação definitiva de Poly & Sua Guitarra Havaiana, a música ilustra sua fala na apresentação do programa e o acompanha em toda a sua trajetória radiofônica.

Começava assim o programa de maior sucesso dos anos 1970 vinculado à Rádio Cultura no período da tarde. Esse BG embalava o programa “Sucessos de Ontem, de Hoje e de Sempre”, que trazia os sucessos que eram tocados no Brasil e ainda os grandes internacionais.

Além de apresentador, Irandir também era o discotecário e produzia seus programas como pouco. Tinha a interação dos ouvintes por telefone e por carta com as solicitações deles.

Aliás, Irandir era carinhoso com seu ouvinte, e até tinha um bordão que dizia sempre quando sua “vinheta” era levada ao ar: “Aqui Irandir Santos. Do lado de lá, você que é muito mais importante!”.

O programa fazia “eco” nas casas. Nos bares, onde tinha um rádio ligado, lá estava Irandir com o seu programa “Sucessos de Ontem, de Hoje e de Sempre”.

E fazia também, e óbvio, escola. Lembro-me bem quando eu exercia a função no magistério - professor que fui -, nos anos 1980, íamos para a cidade de Frei Paulo e Ribeirópolis ligados na Rádio Cultura, coladinhos ao programa dele.

Irandir exercia um fascínio maravilhoso junto ao seu ouvinte. Além do sucesso desse programa, um outro se tornaria de maior audiência num horário próximo: “Ao Cair da Tarde”.

“Ao Cair da Tarde” tornou-se o embrião de todos os programas que viriam depois na radiofonia sergipana de músicas consideradas brega, a quem ele deu o nome certo ao nominá-la de “a música do cancioneiro popular”.

Como BG, Irandir usava o mesmo intérprete do programa anterior, Poly & Sua Guitarra Havaiana, porém a música trazia uma melancolia mais condizente com o horário, pois começava sempre às 18h e ia até 19h. Era “Ouvindo-te”, composição de Vicente Celestino, que também abrilhantava o programa.

As músicas do programa eram as que fizeram sucesso nos anos 1950 e 1960 e até mesmo as dos anos 1970, desde que se adequassem ao modelo “cancioneiro popular”.

O programa começava com uma crônica lida por Irandir e que era escrita pela professora Lindalva Cardoso Dantas. A professora além de cronista também era musicista e escreveu “A Crônica da Ave Maria” por mais de 30 anos.

Irandir também participou da famosa equipe esportiva da Rádio Cultura. Aos domingos, antes da jornada esportiva, mantinha um programa chamado “O Craque e a Música”, no qual entrevistava um craque do futebol e buscava saber das músicas de preferência dele.

Isso tinha, também, uma audiência enorme junto ao ouvinte da Rádio Cultura, que já sintonizava a rádio para ouvir o programa e seguia na emissora com a jornada esportiva.

Um outro programa que tinha um enorme sucesso e que mantinha o ouvinte colado na programação da Rádio Cultura durante todo o dia era “As Cem Mais”.

Mas era levado ao ar sempre no dia 31 de dezembro, onde desfilavam as 100 músicas mais tocadas daquele ano. Era um programa de qualidade e que demandava uma pesquisa de muito trabalho e que a mim muito inspirou em minhas pesquisas.

Pelo programa passavam todos os apresentadores que se envolviam nos horários da rádio, trazendo os sucessos musicais. Cabia a Irandir o desfecho, que encerrava às 19h, antes do programa “A Voz do Brasil”. O interessante é que sempre, ou quase sempre, o primeiro lugar era do Rei Roberto Carlos.

Quando estive na Rádio Princesa da Serra AM, entre 2012 e 2015, tive a honra de dividir o trajeto Itabaiana-Aracaju com Irandir Santos. Foi muita conversa, muito aprendizado, muita história que conheci do rádio sergipano.

Se hoje o “Programa Seleção Brasileira”, pilotado por mim na Aperipê, tem um quadro chamado “Sucessos de Ontem, de Hoje e de Sempre” é para homenagear esse grande nome do rádio sergipano, nordestino e brasileiro.

O carisma e a competência de Irandir Santos marcam a sua passagem pela radiofonia. Seu gosto musical corrobora a tese de que a música de qualidade tem sua presença marcante, seja ela atual, moderna, brega, MPB, forró, sertaneja - independentemente de gênero.

O compromisso com a qualidade musical o tornou ícone, ímpar e mestre da sua geração. Foram mais de 50 anos dedicados ao rádio.

Quando morreu, integrava o elenco da Rádio Pincesa FM, em Itabaiana, onde também tinha uma audiência enorme e grande carinho pela cidade. Por isso e muito mais, o sucesso sempre esteve ligado ao Mestre Irandir Santos.

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* O articulista Mário Sérgio Félix, é  radialista, jornalista e pesquisador da MPB. 

Texto e imagem reproduzidos do site jlpolitica com br

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