domingo, 4 de dezembro de 2022

Vilermando Orico

Legenda da foto: Vilermando Orico, acompanhado por Antonio Teles, ao violão

Publicação compartilhada do site do Portal INFONET, de 22 de maio de 2009

Vilermando Orico
Por Luiz Antonio Barreto (do blog Infonet) 

O rádio revitalizou a vida cultural sergipana, ampliando o contato de artistas com o público. Ainda que tenha sido criada como emissora oficial do Estado Novo em Sergipe, com o nome de Rádio Palácio, a Rádio Difusora, instalada no prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, construído no final dos anos de 1930, cumpriu um papel magistral levando ao ar as vozes e os instrumentos que davam trilha sonora à vida da capital sergipana. Vozes que ficaram imortalizadas, como a de João Melo, que além de cantar é, ainda hoje, um exímio violonista, compositor aplaudido e produtor vitorioso no Rio de Janeiro, a de Raimundo Santos, que pode ser ouvida, ainda hoje, cantando o Hino do Clube Esportivo Sergipe, neste ano completando um século de “luta e de glória”, a de Antonio Teles, talvez a mais romântica, a de Dão, dando graça ao samba, a de Floriano Valente, com seu repertório de valsas, dentre muitas outras embaladas pela Rádio Orquestra de Pinduca, pelos Regionais de Eutímio, Honor Gregório, João Argolo, Carnera e tantos outros astros de primeira grandeza, que fizeram a radiofonia dos primeiros tempos e abriram caminho para os artistas da atualidade.

Havia um grupo de meninos: Alexandre Diniz, Vilermando Orico, Adilson Alves, o Gravatinha e Edildécio Andrade, buscando espaço entre os ouvintes, ancorados por programas de auditório apresentados por Santos Mendonça, Aglaé Fontes, Nelson Souza, e outros. Cada um com seu estilo, sua voz identificada facilmente, seu repertório. Dentre eles, Vilermando Orico camava mais a atenção dos ouvintes, porque seu pai, o alagoano sergipanizado José Orico, que montou em casa um estúdio de gravação, acompanhava as exibições do filho, gravando-as diretamente do sistema de som dos velhos receptores Mulard, ABC, para os pesados acetatos, que eram, depois, reproduzidos no rádio. Alexandre Diniz, que gostava de cantar sentado, fez carreira como professor de Geografia na Universidade Federal de Sergipe, destacando-se como um dos expoentes da sua geração. Adilson Alves gravou alguns discos, fez shows, mas, com o passar do tempo e o domínio da TV, na qual teve participação, afastou-se. Edildécio Andrade foi mais longe, pois é o violão e a voz do Trio Irakitan, um dos mais antigos grupos musicais do Brasil.

Vilermando Orico tinha uma voz extensa, de fortes agudos, e cantava quase tudo, incluindo as músicas que fazia, ainda menino, como o “dobrado” Terra da Promissão, dedicada a Aracaju, em 1955, ano do centenário da mudança da capital. Cantava e tocava piano, vestindo-se como um astro de Hollywood, com direito a Fã Clube, como o que foi organizado na avenida Carlos Burlamaqui, sob a direção de Cordélia Alves (Presidente), Isabel Silva (Secretária) e Normélia Alves França (Tesoureira), do qual dá notícia testemunhal o professor Vilder Santos. Menino prodígio, bem vestido, Vilermando Orico fez de sua infância um projeto artístico, sempre contando com a presença forte do seu pai. Passada a fase infantil, Vilermando Orico sofreu com a mudança da voz, como tinha ocorrido com Paulo Molin, do Recife, uma jovem promessa de cantor. Foram longos anos fora do rádio e do estúdio de gravação. Dominando o piano, Vilermando Orico passou a tocar teclado e montou um Trio, com o nome de Nino, e fez enorme sucesso nas tardes de domingo, na Associação Atlética de Sergipe, tocando inclusive bossa nova.

O sucesso de Nino como músico em nada fazia lembrar o menino Vilermando Orico. Aquele tempo estava apenas na memória dos amigos de infância, e no arquivo do pai. Depois do sucesso com o Trio, Nino foi para Salvador, como piano-bar, lá casou e depois dos aplausos resolveu aceitar uma proposta do Hotel 4 Rodas, de São Luiz do Maranhão, onde repetiu suas performances, e mereceu os aplausos dos ouvintes. Um dia, na praia com a família, sentiu dor no peito, tratou-se mas morreu, em junho de 1984, como sabe Vilder Santos, aos 42 anos. A voz, muito antes já calada, ficou na lembrança da família e dos amigos, em velhos e estragados acetatos, ou salvos em fitas de rolo. A parte do músico ficou, certamente, na memória dos casais, de homens e mulheres que o viram tocar nos hotéis de Salvador e de São Luiz.

A morte de Vilermando Orico, há exatos 25 anos, interrompeu uma das mais brilhantes carreiras de artista sergipano. Nascido em Viçosa, Alagoas, vindo com poucos anos para viver em Aracaju, aqui criado e aqui revelado como artista múltiplo, de uma capacidade extraordinária para a música, Vilermando Orico, o Nino, trajou os melhores figurinos para circular, ainda criança, entre todos e demonstrar sua intimidade com o microfone. Aracaju não pode esquecer Vilermando Orico.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br

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