Publicado originalmente no site do jornal CINFORM, em agosto de 2020
Nascimento do rádio no Brasil tem nova data estabelecida por
pesquisadores
Primeira transmissão da Rádio Clube foi em 6 de abril de
1919
Por Gilberto Costa – Repórter da Agência Brasil – Brasília
Depois do advento da internet comercial, o rádio sofreu uma
metamorfose. Ampliaram as possibilidades de produção e escuta. As audiências
segmentadas fragmentaram-se em nichos antes não atingidos. Nos sites das
emissoras de rádio, os estúdios começaram a ser vistos ao vivo, as reportagens
passaram a ser transcritas, ganharam fotos e até imagem em movimento. Na web,
qualquer emissora do mundo pode ser ouvida em plataformas dedicadas a isso.
O rádio na rede pode ser sincrônico (em tempo real) e
assincrônico, em reportagens gravadas, como acontece na Radioagência Nacional
da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) ou nos milhares de podcasts.
Concomitantemente, o rádio continua sendo o veículo eletrônico mais
instantâneo, íntimo do ouvinte, que trata por “você”, próximo dos
acontecimentos e de menor custo.
Essas propriedades são tema recorrentes do interesse dos
pesquisadores de rádio no Brasil que, além do presente e do futuro do veículo,
continuam investigando o passado. Na próxima quarta-feira (19), a Associação
Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar) realiza uma live (a
partir das 18h) onde será debatida a nova data de nascimento oficial do rádio
no Brasil: 6 de abril de 1919.
No dia seguinte àquela data, o extinto Jornal de Recife deu
a seguinte nota:
“Consoante convocação anterior realizou-se ontem, na Escola
Superior de Eletricidade, a fundação do Rádio Clube, sob os auspícios de uma
plêiade [reunião] de moços que se dedicam ao estudo da eletricidade e da
telegrafia sem fio (TSF).”
A notícia foi localizada em uma microfilmagem do Jornal de
Recife, durante pesquisa do professor Pedro Serico Vaz Filho, da Universidade
Anhembi Morumbi (UAM), que desde o fim dos anos 1990 investiga a história do
rádio. A nova data de aniversário foi corroborada por mais notícias localizadas
pelo pesquisador em jornais e revistas, publicados dentro e fora de Pernambuco,
inclusive sobre o estatuto da nova emissora.
Jovens curiosos
“Claro que não foi uma rádio com a estrutura que nós temos.
Eram jovens estudantes curiosos, que estudavam a radiotelegrafia e resolveram
montar uma estação de rádio, [de caráter] bem amador, bem experimental, Mas já
deram o título de Rádio Clube de Pernambuco”, disse Vaz Filho em entrevista à
Agência Brasil.
Além da investigação em periódicos impressos, o pesquisador
reviu a bibliografia a respeito e fez entrevistas com diferentes fontes que
testemunharam o funcionamento da Radio Clube ainda na primeira metade do século
20.
“Os preparativos para a fundação da emissora, segundo
apuração com o ex-presidente da Rádio, também pesquisador Antônio Camelo,
aconteceram na rua das Mangueiras, atualmente rua Leão Coroado, no bairro da
Boa Vista”, descreveu à reportagem Vaz Filho. Segundo ele, “a Imprensa Oficial
do Estado publicou no dia 7 de abril de 1919, um despacho da prefeitura
recifense, doando um pavilhão do Jardim 13 de maio, atualmente Parque 13 de
maio para funcionar como sede da Rádio Clube.”
As descobertas de Pedro Vaz Filho sobre a primazia da Rádio
Clube confirmam o que o professor, jornalista e radialista, Luiz Maranhão
Filho, hoje com 87 anos, sempre defendeu. O pai de Maranhão Filho trabalhou na
emissora pioneira. Os dois professores participarão da live organizada pela
Alcar.
Data avalizada
Durante um encontro de história da mídia realizado no ano
passado na capital do Rio Grande do Norte, os pesquisadores especialistas no
assunto assinaram a Carta de Natal, onde “avalizam essa decisão os dados
apresentados há mais de três décadas pelo pesquisador Luiz Maranhão Filho
(UFPE) e validados, mais recentemente, pelo pesquisador Pedro Serico Vaz
(Anhembi Morumbi).”
O novo entendimento sobre o nascimento do rádio no Brasil
muda o conteúdo das aulas dos cursos de jornalismo, audiovisual e publicidade nas
faculdades de comunicação. Até recentemente, a bibliografia especializada
reconhecia que a transmissão radiofônica pregressa havia ocorrido de fato
naquela data em Recife, mas que a primeira emissora regular seria a Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro, a partir de 17 de outubro de 1923.
A Rádio Sociedade foi fundada por acadêmicos como o médico e
antropólogo Edgar Roquette-Pinto que via o rádio como um meio estratégico para
levar educação à população, então majoritariamente analfabeta. “O TSF [sistema
de telegrafia sem fio espalha a cultura, as informações, o ensino prático
elementar, o civismo, abre campo ao progresso, preparando os tabaréus [pessoa
sem instrução] despertando em cada qual o desejo de aprender”, escreveu Roquete-Pinto
em artigo publicado em 1927.
De acordo com Vaz Filho, o líder da fundação da Rádio Clube
de Pernambuco foi o radiotelegrafista e contabilista Augusto Joaquim Ferreira,
também de perfil intelectual, mas não acadêmico. “Ele e outros jovens pensaram
naquela possibilidade como meio de comunicação, não exatamente para levar
educação às pessoas, o objetivo era outro: levar informações”, como ainda se dá
hoje no rádio escutado no dial dos aparelhos à pilha ou na podosfera acessada
pelos serviços de streaming.
Edição: Liliane Farias
Texto e imagem reproduzidos do site: cinform.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário