Imagem reproduzida do site rcr.org.br e
postada pelo blog para ilustrar o presente artigo.
Acordando com o rádio
Por Ruy Castro
Nesta época de redes sociais, ainda sou dos que acordam com
o rádio. É uma garantia de que escutarei notícias, não fakes. Imagine se,
naquela mesma manhã, na Casa Branca, Donald Trump tiver tropeçado no próprio
topete e fraturado a uretra. Se for verdade, é algo de que precisamos ficar
sabendo em tempo real.
Nos anos 50, foi pelo Repórter Esso e pelo O Globo no Ar que
ouvi as notícias da morte de Francisco Alves, Getulio Vargas, Carmen Miranda,
James Dean e Oliver Hardy, o Gordo de O Gordo e o Magro. Infelizmente, nenhuma
delas era boato.
Durante muito tempo, a divisão entre o rádio e seus ouvintes
era mais nítida. Cada qual ficava em seu lado do dial, e isso parecia muito
natural. As únicas possibilidades de um ouvinte se ouvir no rádio eram se fosse
entrevistado na rua, telefonasse para pedir música ou cantasse no programa de
calouros.
Hoje, principalmente nas rádios que só tocam notícia, não é
mais assim. Os ouvintes são estimulados a participar da programação,
telefonando para a emissora a fim de dar notícias sobre o que está acontecendo
no seu bairro ou rua. E, com isso, temos:
Há um tiroteio na Praça Seca, em Jacarepaguá. Vazamento de
água da altura de um chafariz está inundando a rua do Matoso, na Tijuca.
Acidente envolvendo dois ônibus fechou uma pista da avenida Brasil na altura de
Bonsucesso. Engarrafamento na ponte Rio-Niterói faz com que a travessia sentido
Rio esteja levando 23 minutos. E por aí vai. Só notícias chatas, desagradáveis.
Gostaria de, um dia, ser acordado ao som de:
Garças sobrevoam a Lagoa. O sol está nascendo de uma maneira
incrível atrás da igreja da Penha. Há um ipê amarelo todo florido na Gávea. O
mar está cristalino no Arpoador, dá até para ver os cardumes. Acabo de passar
por um casal apaixonado se beijando numa praça do Grajaú.
Essas coisas também acontecem todo dia no Rio. Talvez por
isso não sejam notícia.
Texto reproduzido do site: nenoticias.com.br
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