Foto reproduzida do Facebook/Raymundo Luiz da Silva.
Postada por MTéSERGIPE, para ilustrar a presente publicação.
Publicado originalmente no site Osmário Santos, em
22/06/2002.
Raymundo Luiz: "falando francamente".
Jornalista tem passagens com destaque pelo rádio, jornal e
vida pública de Sergipe.
Por Osmário Santos/JC.
Raymundo Luiz da Silva nasceu a 28 de setembro de 1929 na
cidade de Aracaju-Sergipe. Seus pais: Manoel Messias da Silva e Eremita Moura
da Silva.
O pai foi “guarda-livros”, o equivalente hoje ao nível
superior em Ciências Contábeis, tendo feito, durante muitos anos, a “escrita”
(os livros de Contabilidade eram escriturados à mão) de importantes firmas da
época, como Sergipe Industrial, Cruz Irmão e Irmãos Brito. Dele o filho herdou
a sobriedade, a tranqüilidade e o respeito à palavra empenhada, lições que
procurou transmitir aos filhos.
Da sua querida mãe, D. Eremita, Raymundo recorda que ela
colocava a família sempre em primeiro lugar. Desprendida, gostava de criar
pessoas, a quem acolhia como se fizessem parte da família. “Foi uma lutadora
que durante anos fez bolinhos de ovos que eram vendidos nas ruas de Aracaju,
para ajudar nas despesas da casa e na educação dos filhos. “Dela herdei essa
imensa ternura que tenho pelo ser humano”, sensibiliza-se Raymundo.
A infância aconteceu de forma inesquecível pelos jogos de
bola de meia com os amigos nas areias da rua de Maruim, entre as ruas de Santa
Luzia e Itabaiana, ou os banhos de mar e os pulos do trampolim que existia
próximo à Ponte do Imperador.
Curso primário foi realizado no Colégio “Santo Antônio”, na
rua de Santa Luzia, sendo aluno da professora, Dona Guiomar Tavares. “Ela me
transmitiu o gosto pela leitura de textos do livro tradicional da época “A
Crestomatia”, insistindo pela pronúncia exata das palavras e pela real
interpretação dos textos lidos.
Fez o ginásio completo no Colégio Salesiano “Nossa Senhora
Auxiliadora” e, recorda-se bem do professor de Inglês, Tennyson Ribeiro, além
de grandes mestres como os Padres Angelo Spadari, Antônio Campelo e outros.
“Fui titular do time de futebol do Salesiano, que se chamava “auriverde”, e que
era o “bam-bam” nos meios estudantis”.
No Ateneu o curso clássico e o de Contabilidade, na Escola
Técnica de Comércio “Conselheiro Orlando”, na Praça Camerino, quando começa a
dar os primeiros passos na prática da Contabilidade. “Quando a firma “José dos
Santos” veio para Aracaju fiz, durante meses, a escrita de sua loja que ficava
na rua Apulcro Mota; era auxiliar do contador e colega bancário José Gomes”.
Raymundo lembra que o tempo da sua juventude foi dos mais
movimentados: “No Cotinguiba joguei futebol, banhos de mar na Praia Formosa,
“peladas” de futebol nos apicuns atrás da Igreja São José ou na “Areinha”, onde
hoje está construído o novo Atheneu Sergipense. Das “danças” nas casas de
família, dos bailes na Atlética e no Cotinguiba, clube de minha paixão. As
retretas nas noites de domingos, ou as matinês nos cinemas da cidade, Rex,
Guarani, Rio Branco. Foi o bom tempo da prática pioneira do halterofilismo, no
Ginásio Grimek, com halteres improvisados feitos de cimento, na casa de Rui
Bessa, que se tornou meu cunhado (casou com minha irmã, Maria Cândida. Depois o
Centro de Cultura Física, que ainda hoje funciona, e bem, ao lado do meu
irmão-amigo Euripedes Felizola”.
Fez Filosofia, por escolha pessoal e muito pesou na opção do
curso superior, seu gosto pela leitura e busca do conhecimento. Raymundo
relata: “Fiz Vestibular – inclusive com a matéria Latim – fui aprovado de
primeira e não havia trote naquela época. Também se quisessem cortar meu
“pimpão”, ia sair do sério (risos)”. Desportista de fé, como universitário, chegou
a ser o presidente da FAES (Federação Atlética dos Estudantes de Sergipe).
De sua passagem pela Faculdade de Filosofia reconhecimento
pelos mestres e de outros grandes momentos: “Tive o privilégio de ter uma banca
de mestres do maior gabarito na Faculdade de Filosofia: Dom Luciano Duarte,
Cabral Machado, José Silvério Leite Fontes, Paulo Machado, Cônego Carvalho,
dentre outros, e quando conclui o Curso, então já na Universidade Federal de
Sergipe, fui escolhido para ser orador da turma de todas as categorias de
formandos naquele ano. Aliás, eu fui o único que concluiu o Curso de Filosofia;
os que começaram comigo na Faculdade, ou viajaram para outros estados ou
desistiram. Foi aberto um livro de Atas na UFS só para registrar a conclusão
deste Curso de Filosofia, algo no estilo o “último dos moicanos” (risos).
Começou a trabalhar bem cedo e o primeiro emprego aconteceu
no Banco do Comércio e Indústria de Sergipe, da família Franco, presidido pelo
Sr. José do Prado Franco e tendo como diretor-gerente o Dr. João do Prado
Franco. “Foi feito um teste de seleção, e me lembro que participaram dele bons
amigos como Paulo Espinheira e Pedro Pires. Com esses dois e Murilo Dantas
(Banco Dantas Freire) formamos uma guarnição de remo (4 com patrão) que dava
show no estuário do Rio Sergipe. No Banco do Comércio (Bancides) conheci
grandes figuras humanas como Leonardo Ribeiro, Rivadávia Brito Bomfim, Antônio
Oberdan Felizola, Sr. Pedro Reis Lima, Manoel Joaquim Soares Lima, Joviniano
Fonseca Filho, Humberto Maciel (que assinou minha Carteira Profissional),
Renato Franco Oliveira e vários outros grandes profissionais. O Dr. Luiz Garcia
era o advogado do Banco”.
Aprovado no concurso no Banco do Brasil, deixa o Banco do
Comércio e Indústria onde tinha um salário melhor do que o inicial do Banco do
Brasil e assumi o novo emprego no BB em 1º de setembro de 1952, na agência em
Itabaiana/SE. Raymundo orgulha-se de dizer que o “Banco do Brasil é uma escola
de vida e lá fiz amigos para o resto da vida, dentre tantos inesquecíveis, José
Conde Brandão, Adalberto Moura, Enivaldo Araújo, Paulo Fernando, Osvaldo
Carvalho, Raulito Ribeiro Nunes, Felizola, Clóvis, Fernando Tiúba, Rochinha,
Eduardo Ribeiro, José Hilton Rocha, Lises, Canabrava, Augusto Viana, Antônio
Eduardo, Ademar, Clemência, Marta, Rosa, tanta gente boa que me penitencio de
certamente ter esquecido vários tão preciosos quanto os citados.”
Tem paixão pelas práticas esportivas: remo, tênis, natação,
halterofilismo e, principalmente, futebol, onde vestiu camisa de clube. “Joguei
no Estudantil de “Cobrinha”, no Cotinguiba, no Itabaiana e no Sergipe, como
titular. Embora não gostasse de assanhar o cabelo, driblava bem, o que me valeu
muitas botinadas, razão de hoje andar capengando” (risos).
Emplacou seu nome na história do rádio sergipano e conta
como tudo começou: “A Rádio Cultura era da Arquidiocese de Aracaju, e como
universitário na Faculdade de Filosofia, Dom Luciano que era meu professor e
Diretor Presidente da emissora, por saber que eu era um desportista por
vocação, convidou-me para dirigir o Departamento da emissora. É quando começa o
“Falando Francamente” que marcou minha carreira no rádio esportivo. Agora tem
um programa da Sonia Abrãao, na TV, com esse nome, vou cobrar direitos
autorais. Brincadeira”.
Do esporte passou a dirigir a Cultura diante da necessidade
que a emissora sentiu de que era preciso aumentar a audiência com a mudança de
programação. “A Rádio Cultura era de fato uma emissora dedicada à cultura.
Alencar Filho, Ribeirinho (Sodré Junior) Aglaé Fontes e outros a implantaram
sob a égide de uma programação essencialmente educativa e cultural. Mas,
infelizmente, qualidade não dá Ibope, e a direção da emissora resolveu que ela
se tornasse mais popular. Como o esporte sempre deu grande audiência, fui
convidado para estender o dinamismo do esporte por toda a programação da Rádio
Cultura. Na verdade, se méritos tive, foi porque sempre procurei me cercar dos
melhores, de profissionais melhores do que eu. Deu certo”.
Dos colegas de trabalho do seu tempo de Rádio Cultura: “Foi
grande ter convivido com radialistas do porte de Reinaldo Moura, Carlos
Magalhães, Wellington Elias, Acival Gomes, Paulo Gomes, Humberto Mendonça,
Hélio Fernandes, Antônio Pádua, Antônio Barbosa, Alceu Monteiro, Canabrava de
Mendonça e muitos outros. Em determinado momento, a Diretoria da Cultura
decidiu que a Rádio passasse a ter um Editorial, estabelecendo a linha de
pensamento da emissora, sobre todos os assuntos que interessavam ao Estado”. É
quando começa a “Nossa Opinião”, da qual fui durante anos redator e
apresentador. A equipe editorial da Rádio Cultura era uma academia: Dr. Jorge
de Oliveira Neto, Dom Luciano Duarte, Professor Silvério Fontes, Dr. Paulo
Machado, Dr. Cabral Machado, enfim, padrão de excelência, competência e
cultura”.
Como profissional do rádio foi testemunha de muitos fatos e
dos interessantes registra para a memória de Sergipe alguns deles: “Dia 31 de
março de 1964, acompanhei na Maternidade o nascimento do meu terceiro filho, e
às 5 horas da manhã foram me buscar num jipe do Exército. O cristal da rádio
tinha sido retirado, e o seu retorno ao ar dependeu do compromisso de só tocar
hinos cívicos. Outra: numa madrugada vieram me buscar em casa porque um locutor
endoideceu e estava fazendo a maior confusão. Consegui convencê-lo, e levei-o
de carro, para que tivesse uma assistência especializada no Hospital “Adauto
Botelho”. Telefonei antes, avisando, que ia chegar. Deixei-o na porta do
hospital, enquanto estacionava o carro. Quando cheguei no hall, ele já tinha
anunciado aos enfermeiros: “olha o doido chegando aí”. Era eu...
“Mais uma? A torre de transmissão da Cultura ficava onde
hoje está o Cemitério “José Conrado de Araújo”. Era um ermo. Walter Teles,
controlista de plantão, me telefonou e, tremendo de medo, me disse que algumas
pessoas desceram de um carro perto da torre, cavaram um buraco com pás, jogaram
um corpo dentro, cobriram novamente de areia e foram embora. Nunca fui herói,
mas diretor é pra essas coisas. Chamei o colega e amigo, gigante Geraldão
(Geraldo Oliveira) comuniquei por telefone à Polícia e fomos para lá, acalmar
Walter que estava pra dar um troço. Uma hora depois chegou a equipe da polícia,
iluminou o local com faróis, cavaram e lá estava o corpo coberto por um
encerado: o corpo era de um cachorro enorme”.
Na mídia impressa primeiro atuou como diretor-administrativo
do “Sergipe Jornal”, a convite do seu proprietário, José Carlos Teixeira. “José
Carlos Teixeira vendeu o matutino aos “Diários Associados”. Os diretores que
aqui chegaram, Dr. Odorico Tavares e Paulo Nacif, depois de tomarem
informações, convidaram-me para continuar no cargo, como Diretor-Executivo do
“Diário de Aracaju”... Aceitei. A estrutura dos “Diários Associados” era
perfeita e o “Diário de Aracaju” marcou uma revolução na imprensa escrita de
Sergipe, até porque concorrência é sempre estimulante”.
Da sua presença na direção do jornal dos Diários Associados
em Aracaju muitas conquistas: “Fiz grandes relacionamentos, muitos amigos,
convivi e aprendi com pessoas excelentes. Imagine: Luiz Eduardo, Leó Filho,
Osório Ramos, Erotildes Araújo, Nazário Pimentel, Henio Costa, Edén Franklin,
Maria Luiza Cruz, Paulo Nou, Jorge Araújo, Hugo Costa, Luis Lobão, Jorge
Carvalho, Jackson Sá Figueiredo, Teotônio Neto, Jurandi Cavalcanti, Aurélio
Mesquita, Simeão Fagundes, Givaldo Santos, Tereza Newman, Jurandi Santos, Orlando
Souza, Amaral Cavalcanti, tanta gente boa que citá-las iria consumir todo o
espaço.
Raymundo foi diretor da melhor fase editorial do Diário de
Aracaju e nesse período, indicado pelo colega dos tempos de universitário,
depois Ministro, Geraldo Barreto Sobral, genro de Dr. Lourival, aceita o
convite para ser secretário particular do então governador Lourival Baptista.
“Passei poucos meses no cargo, pois o governador não conseguiu (?!) que o Banco
do Brasil me liberasse. Aí é outra história. Dois anos depois ele mesmo
conseguiu que eu fosse posto à disposição do Movimento de Educação de Base, na
Rádio Cultura. O Arcebispo D. Távora pediu-lhe, ele conseguiu, na hora”.
Sintomático.
Passado o governo Lourival Baptista, tempos depois, retorna
à vida pública, no I Governo João Alves, como Assessor Especial, depois
Secretário de Comunicação, tendo também exercido as funções de Superintendente
da Fundação Aperipê, da qual foi o implantador.
No II Governo João Alves volta a ser Secretário Especial de
Comunicação Social e no mesmo governo passa dois anos como Secretário Especial
de Assuntos Institucionais. No Governo Antônio Carlos Valadares atuou como
Secretário Especial de Assuntos Político-Governamentais e depois Assessor
Especial.
Com os curiós, Raymundo Luiz tem uma grande cumplicidade.
“Adoro a natureza, especialmente o canto mavioso dos passarinhos, que crio
desde garoto. Curiós são os meus preferidos. São aves especiais, e a tradução
do seu nome indígena é “amigo do homem”. Os curiós estavam em extinção, mas,
atualmente eles são reproduzidos em cativeiro, com anilhamento e autorização do
Ibama, tudo certinho”.
Exatamente há 40 anos, em 1962, entra no Lions Clube
Aracaju, onde exerceu todos os cargos diretivos no seu Clube, alguns na região,
sendo atualmente Sócio-Vitalício. Com orgulho diz que tem o Diploma Especial de
“Amigo de Melvin Jones”. “É uma grande entidade com mais de 1.400.000 sócios em
todo o mundo. É uma honra ser Leão”, conceitua Raymundo.
Parte do seu tempo para os trabalhos jornalísticos que continua
a desenvolver até hoje é dedicado ao Poder Legislativo Estadual. “A Assembléia
Legislativa é o núcleo central de todos os principais acontecimentos do Estado.
Em 1999, quando resolvi “botar a cara de fora”, trabalhar com os colegas na
“bancada vermelha” passou a ser uma rotina. Dali extraio tudo que escrevo, e
ali aprendo todos os dias as melhores lições de minha vida. O ano passado fui
homenageado com a mais alta comenda do Poder Legislativo: Ordem do Mérito
Parlamentar. Por unanimidade. Como se vê, a Assembléia é uma casa cheia de
generosidade”.
Casado com Lourdinha, desde 1953, espera para o próximo ano
comemorar, com a mesma felicidade de sempre, as Bodas de Ouro. “Minha família é
tudo para mim. Meus filhos que amo tanto, são Ângela, professora, Sérgio,
economista e analista de sistemas, Dinara, decoradora de interiores, Raimundo
Luiz Filho, professor de Educação Física, Breno, Curso Superior de Computação,
e aí essa turma me deu genros e noras – Aída, Roberto, Custódio e Patrícia –
netos – Carol, Elber, Lucas, Raymundo Neto – e bisneta, a fofinha Marina.
Para Raymundo “viver é a grande emoção da existência”.
Emoção mais forte: a morte dos meus pais. Decepção é ser agredido, sem
explicação, principalmente por quem menos se espera. “Acontece. Faz parte. Mas,
dói”.
Foi homenageado com os Diplomas da Ordem do Mérito Aperipê
(Estado) – Dr. João Alves –, do Mérito Serigy (Prefeitura) – Dr. Viana de
Assis, e, mais recentemente, com a Medalha do Mérito Parlamentar (Assembléia
Legislativa) – deputada Susana Azevedo – além do Sindicato dos Jornalistas
(Sindijor) – jornalista Milton Alves. “Dizem que o homem na sua vida tem de ter
um filho varão (tenho três), plantar uma árvore (já plantei centenas) e
escrever um livro (já comecei, se der tempo, termino) Falando Francamente.
Texto reproduzido do site:
usuarioweb.infonet.com.br/~osmario
Grande honra de ter sido vizinho desse grande homem e sua bela família na rua Moacir rabRabe leite durante a minha infância. Lembro demais de todos. Deus abençoe e de vida longa e saudável a todos. Abraço.
ResponderExcluir*rua Moacir Rabello
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