Publicado originalmente no blog de José Augusto Silva Prudente, em 27/05/2014.
A História do Rádio Sergipano (revisão 1 - 27/5/14)*
Por José Augusto Silva Prudente.
Introdução.
Permita-me conduzir-lhe nesta viagem pela história do rádio
sergipano. Esta narrativa não é pioneira nem única. Aqui mesmo na internet
outros relatos semelhantes podem ser encontrados e até encorajo os estudiosos e
curiosos a pesquisá-los. O meu relato diferencia-se pela sua organização em
capítulos e por retratar minha experiência real, vivida ou testemunhada ao
longo de cerca de 10 anos do que foi talvez o período mais rico e emblemático
dessa fantástica ferramenta de comunicação, o rádio.
Masculino ou feminino.
A palavra comporta grafias, pronúncias e significados
diferentes. Se lá no "interiorzão" você ouvir: "Deu na
rádia", não estranhe. É apenas a forma vulgar, errada, de se referir à
estação de rádio. No masculino, desprezando o significado anatômico do osso do
ante-braço, rádio é o aparelho receptor que capta as transmissões radiofônicas
e é também um sistema de comunicações e entretenimento. Este é o rádio de que
trataremos aqui.
As Emissoras e seus
locutores.
As emissoras de rádio são estações dotadas de aparelhagem
eletrônica capaz de transformar sons em ondas eletromagnéticas que se propagam
no espaço (este "espaço" também já foi muito referido como
"éter", embora nada tenha a ver com a substância éter, por sinal
inebriante). Essa mera coincidência, curiosamente vem a calhar porque a
atividade de rádio é considerada pelos que a abraçam uma "verdadeira
cachaça", tão viciante que é.
Estas duas formas de energia, sons e ondas eletromagnéticas,
constituem a essência do rádio e não é à toa que quase todos os símbolos e
logotipos de estações de rádio representam microfones e antenas.
No espaço não existem fronteiras. Nada impediria que uma
rádio daqui viesse a interferir com uma outra num país diferente. Então, desde
priscas eras, as nações assinaram acordos para garantir uma certa ordem na
casa. Isto gerou regras que cada país aplica, não só às transmissões
radiofônicas destinadas ao grande público, como também às comunicações,
aviação, hobby (radioamadorismo) , televisão, etc.
As estações de rádio, então, tinham que se submeter a essas
regras, que no Brasil eram definidas e fiscalizadas pelo Dentel (Departamento
Nacional de Telecomunicações). Para se criar uma rádio é preciso haver um
processo no Dentel, que o examina tecnicamente em termos de localização,
potência, frequência, etc. e, estando tudo OK, concede-se a autorização de
funcionamento, atribui-se um prefixo e assim a rádio pode ser operada. Uma
rádio que não cumpra essas exigências é simplesmente uma rádio pirata. Para que
o Dentel possa comprovar que a nova rádio realmente atende aos requisitos,
é-lhe dada uma autorização provisória. É a dita fase experimental. Antigamente,
essa fase durava cerca de 2 a 3 meses e durante este tempo as rádios não podiam
transmitir mensagens comerciais. Hoje as
regras são mais brandas. Durante a fase experimental, a rádio transmitia música
e apelos à população para que escrevessem dizendo como recebiam as
transmissões. Era assim que se conhecia o real alcance da rádio, que dependia
muito da topografia, distância, horário e mais uma infinidade de fatores.
Por outro lado, as rádios continuam sendo uma concessão
pública do governo e, como em tudo de governo, impera a burocracia e o tráfico
de influência. Não é à toa que a grande maioria dos proprietários de rádios e
TVs são políticos, que são ou já foram alinhados com os mandatários de plantão.
Existe um componente físico que encarna esse poder
concedente do Estado: é o chamado "cristal" da rádio. Essa peça é a
responsável pela geração da frequência de transmissão. Quando acontece
(rarísssimas vezes, felizmente) que o governo queira impor a suspensão de uma
estação de rádio, as autoridades vão até o transmissor, retiram o cristal e o
confiscam. Sem ele, a rádio não funciona. Isto aconteceu no ano de 1964,
lembram?
Rádio Difusora de
Sergipe PRJ-6 (seu nome agora é Aperipê-AM).
A história do rádio em Sergipe se inicia com a antiga Rádio
Difusora de Sergipe PRJ-6, que funcionava num anexo do Palácio Serigy, à rua
José do Prado Franco. Era uma estação de propriedade do Estado de Sergipe, que
esteve arrendada por muito tempo ao Sr.Augusto Luz e tinha como diretor técnico
o Sr.Cláudio Silva, genitor de uma família extraordinária de talentos
radiofônicos: Maria Cláudia, dona de uma voz excepcional, foi a primeira
locutora do Estado; Wolney Silva, também excelente locutor, logo se mudou para
o Rio, onde atuou em diversas emissoras e na Voz da América, tendo sido o
substituto do renomado Heron Domingues, que fazia o Reporter Esso da Rádio
Nacional do Rio de Janeiro; e Paulo Silva, que deu continuidade ao negócio de
carros de propaganda do pai, sendo talvez mais conhecido como empresário, dono
do Café Sul-Americano. Antes da Rádio Difusora, houve uma rádio experimental,
que funcionou nos fundos do Palácio Olímpio Campos, sob o comando de Marques
Guimarães, também conhecido como “Pulga Prenha”, que por diversos governos
assumia as funções de secretário de imprensa e chefe de cerimonial. Essa rádio
experimental funcionou sob o nome de Aperipê, que mais tarde viria a substituir
o nome de Rádio Difusora.
A programação da Difusora era bem eclética, com programas de
auditório, crônica social, culinária, esporte, notícias e todas as facetas que
o rádio da época tinha. Dito assim, parece que havia uma estrutura grande e
organizada por trás. Nada disso. O que havia era uma turma vocacionada e disposta
a vencer obstáculos e fazer-se parecer com as rádios do sul, que ditavam a
moda.
A Difusora revelou alguns valores que permaneceram em
evidência por muito tempo, a exemplo de José Eugênio (esporte), Santos Mendonça
(jornalismo e variedades), Silva Lima e outros. Foi também palco de diversos
valores musicais, entre eles Seu Oscar, Dão, Vilermando Orico, Antonio Teles,
Edildécio Andrade, assim como orquestras e regionais.
Atuaram como locutores na Difusora Maria Claudia, Wolney
Silva, Santos Santana, Nairson Menezes (egresso do rádio paulista), Alvaro
Macedo, J.Honorato, Jailton Oliveira, Reinaldo Moura, Carlos Silveira, Jairo
Alves, em épocas não exatamente coincidentes.
Depois dessa fase inicial, a Rádio Difusora passou por
mudanças administrativas e artísticas, decorrentes da dura concorrência da nova
Rádio Liberdade de Sergipe ZYM-20, do empresário Albino Silva da Fonseca, e seu
inevitável impacto no faturamento.
Passou a ser uma rádio apenas musical, adotando o slogan de
"uma radiola em seu lar". Era um modelo novo de rádio que surgia no
sul do País, bem mais econômico, sem cachês (gratificação em dinheiro paga a
participantes esporádicos que se apresentam nos programas ao-vivo). Esse modelo
havia sido criado recentemente e logo foi adotado por rádios famosas como a
Rádio Jornal do Brasil, Tamoio, Mundial, entre outras. Consistia em ter uma
discoteca diversificada e de boa qualidade, cujas músicas eram apresentadas de
forma regular e padronizada em que o
locutor laconicamente anunciava o cantor ou orquestra, entrava uma
música, ao final o locutor dizia o nome da música executada e o intérprete,
entrava uma mensagem comercial, o locutor dava a hora certa e a sequência se
repetia indefinidamente. Foi um momento de transição, que marcou a extinção do
estilo rádio-espetáculo, de orquestras e cantores ao vivo, de novelas,
programas humorísticos e atrações custosas. Esses tipos de atrações passaram
para a televisão, que dava então seus primeiros passos. No Rio e São Paulo,
talvez por força de contratos assinados com anunciantes e com artistas, o
estilo tradicional ainda durou um tempo, mas pouco a pouco foi sendo
abandonado. Programas como "Balança Mas Não Cai" e "PRK-30"
ainda eram transmitidos pelas Rádios Nacional, Tupi e Mayrink-Veiga, mas foram
substituídos por equivalentes na TV-Tupi, TV-Rio e mais tarde, TV-Globo.
Rádio Liberdade de
Sergipe, ZYM-20 (Atual 930-AM Bandeirantes).
A Rádio Liberdade nasceu sob inspiração política da União
Democrática Nacional UDN, partido que rapidamente ganhou força, contrapondo-se
ao PTB de Getúlio Vargas. Em Sergipe tinha muitas e influentes figuras
políticas como Leandro Maciel, Lourival Batista, Luiz Garcia, Seixas Dória,
Passos Porto, mas não dispunha de uma rádio potente para alcançar todo o
Estado. Albino Silva da Fonseca era um empresário do ramo de panificação e
biscoitos e era simpatizante da UDN. Criou então a Rádio Liberdade, uma estação
bem mais potente, 10 vezes mais forte que a Difusora e cujas transmissoes eram
ouvidas desde o Ceará até o sul da Bahia. Migraram para a Liberdade alguns
valores da Difusora, entre eles Santos Mendonça e Silva Lima. A Liberdade foi instalada nos fundos da Padaria Ceres, do mesmo dono da
rádio, à rua Itabaianinha, e suas instalações eram semelhantes à Difusora: uma
porta de acesso, uma escadaria até o andar superior, e um auditório com o palco
dando acesso à sala técnica e à cabine de locução. Espremendo-se no pequeno
espaço que sobrava, havia escritório e discoteca, onde ficavam os discos
tocados na programação. A Liberdade conquistou logo uma grande audiência, e sua
programação ecoava nas ruas da cidade. Naquela época havia pouquíssimos
automóveis e todo mundo andava a pé. O comércio funcionava em dois turnos das 8
as 12 e das 13:30 as 17:30hs. Todo mundo almoçava em casa. Quando as pessoas iam e vinham do trabalho,
ouviam na rua, clara e fortemente, o som
dos rádios das casas por onde passavam. E só se ouvia a Liberdade. Nessa
hora do almoço, Silva Lima reinava com o seu vibrante Informativo Cinzano e sua
Parada de Esportes. Carlito Melo comandava o Carrossel da Alegria das 17 as 18
horas, um programa de oferecimentos musicais que simulava uma fictícia corrida
de cavalos, em que cada animal tinha o nome de um ritmo musical. O Carlito
dizia "Foi dada a largada. Na ponta o cavalinho Samba, seguido pelo
cavalinho Mambo,..." e ia batucando com os dedos na mesa, fazendo o trotar
dos cascos dos cavalos. Se a musica que ele queria tocar era uma rumba, por
exemplo, do meio para o fim da corrida o cavalinho Rumba ia passando os outros e
ganhava. "Venceu o cavalinho Rumba". Aí vinha a mensagem de
aniversário e tocava-se a rumba. Era criativo e interessante. Creio que se
inspirou no carrossel de Tobias, um brinquedo tradicional das feirinhas de
natal, que tinha imitações de cavalinhos que rodavam montados pelas crianças.
No começo e no fim de cada rodada do carrossel, tocavam um apito. O Carrossel
da Alegria tinha também o mesmo som do apito.
Silva Lima apresentava também "Coisas de Cinema",
um programa que analisava e criticava filmes e atores, com a participação de um
cinéfilo amador cognominado "Dr. Gastão". Silva Lima apresentava ainda uma crônica
social diária produzida por um polêmico
cronista chamado Carlos Henrique, apelidado de "Bonequinha".
Era ua crônica mordaz e irreverente.
Sem duvida o programa de maior repercussão da Liberdade era
o Calendário, de Santos Mendonça, irradiado diariamente as 20 horas. No início
era inspirado nos velhos calendários de propaganda de Capivarol e Biotônico
Fontoura, também chamados de Folhinhas, em que ia-se destacando suas páginas,
uma a uma, todo dia, e apareciam
informações como fatos históricos da data, os santos do dia, os dias
decorridos do ano, fases da lua, etc. O Calendario iniciava-se sempre com a
mesma abertura: "Boa noite ouvintes. A voracidade do tempo anuncia sua
marcha. São decorridos 98 dias do ano de
1960 faltando 263 dias para seu termino...". Tinha seções de curiosidades,
aviso aos motoristas, etc. Com o passar do tempo, Santos Mendonca percebeu que
tinha uma audiência grande e fiel e que
aquele estilo de programa já não interessava tanto. Passou então para um
formato livre e assumiu um papel de jornalismo opinativo e investigativo. Dois
casos policiais que abalaram a cidade foram a grande oportunidade que apareceu
para Santos Mendonça se projetar na carreira política, tendo sido vereador e
deputado estadual, cassado no governo revolucionário. Os casos foram o
assassinato do menino Carlos Werneck pelo seu vizinho La Conga e o assassinato
do médico e político Carlos Firpo, dizem, a mando de sua esposa Milena
Mandarino, com a cumplicidade de um coronel da Aeronáutica.
Outro programa da Liberdade foi "Uma Cronica Para
Você" de Wellington Elias com narração de Aloisio Lisboa.
Foram locutores da Liberdade, além dos citados, Cid Morais,
Fernando Souza, Ana Gardênia, Castro Filho, Cadmo Nascimento, Antonio Pádua,
Humberto Mendonça, Jose Carlos e outros.
A Rádio Liberdade de Sergipe passou a se chamar Liberdade-AM
e hoje é a 930-AM, filiada a Rede Bandeirantes.
Rádio Jornal de
Sergipe ZYM-21.
Assim como a Liberdade, anos depois nascia a Jornal, também
sob inspiração política, só que do Partido Social Democrático PSD. A rádio
Jornal foi instalada precariamente num sítio no Bairro Industrial e logo se
transferiu para seus estúdios na rua da Frente, Av. Rio Branco. Tinha só 1 kW
de potência e suas instalações eram modestas. Não tinha auditório. Seu primeiro
locutor foi Sodre Júnior. Também atuaram José Augusto Prudente, José Augusto
Santos, José Augusto Fontes (falecido), Paulo Lacerda, Alberto Lacerda
(falecido), Magner Andrade, Raimundo Almeida (falecido), Nazare Carvalho,
Carlos Mota (falecido), Nairson Menezes (falecido), Nelson Souza (falecido), Lenaldo Menezes,
Costa Cavalcante, Geraldo Chagas, João
Ribeiro (falecido) , Cadmo Nascimento (falecido) entre outros.
Nas transmissoes esportivas destacou-se Carlos Magalhaes.
Sua programação era a
corriqueira e teve como destaque especial um programa humorístico chamado
"Risolândia", produzido por Nelson Souza e Humberto Guerrera. Esse
programa fazia críticas pesadas ao governador Luiz Garcia (da UDN) e conta-se
que, certa noite, membros da casa militar do Palácio do Governo sequestraram os
produtores do programa e os levaram para um local ermo, chamado "estrada
da cerâmica" e lá os agrediram, como forma de intimidação. Outro programa de sucesso foi "Com a
Boca no Mundo" apresentado por Raimundo Almeida.
Nos comícios pré-eleitorais do PSD houve boicote de energia
elétrica para impedir a transmissão da Rádio Jornal. Com o passar do tempo a
politica foi se civilizando e a paz voltou a reinar.
Rádio Cultura de
Sergipe ZYM-22.
Igualmente potente como a Liberdade, a emissora católica da
Arquidiocese de Aracaju foi criada em 1959 por D. José Vicente Távora, como
parte de um programa de alfabetização em massa chamado MEB - Movimento de
Educação de Base, que distribuía receptores cativos (só pegavam a Rádio
Cultura) por comunidades pobres no interior do Estado.
A Rádio Cultura, sob o comando de Alencar Filho e Sodré
Junior, restabeleceu o estilo de produções artísticas, recrutando respeitados
intelectuais locais (Benvindo Sales de Campos, Hugo Costa, Jurandir Cavalcanti,
Leonardo e Hunaldo Alencar, Núbia Marques...), como também músicos de escol
como Macepa, Carnera, Maria Olivia,...para se apresentarem ao vivo em seus
estúdios. A Rádio Cultura apresentava diariamente um programa infantil
teatralizado, "O Gato de Botas", sob o comando da professora Aglaé
Fontes e com a participação de crianças alunas de sua escolinha de teatro
infantil. A Rádio Cultura levou ao ar também produções de rádio-teatro com o
seu cast de locutores e convidados. Entre as produções radiofonizadas merecem
citação especial a Paixão de Cristo e a Guerra dos Mundos. Esta última gerou
grande polêmica porque foi uma reedição da obra de Orson Wells, que se
notabilizara por uma transmissão fictícia de uma invasão da Terra por seres
alienígenas, com todo um clima de suspense e pânico que levou os ouvintes, lá
nos Estados Unidos, a uma crise de histeria coletiva. Aqui não foi diferente.
Todo o programa foi irradiado como se fosse uma transmissão real ao vivo, com
entrevistas de pessoas assustadas com as naves e os ET's, efeitos sonoros e
tudo. Só ao final foi dito que se tratava de uma obra de ficção. No dia
seguinte choveram protestos indignados das pessoas que se deixaram enganar.
As noites de sábado e domingo eram particularmente
movimentadas nos estúdios da Cultura, quando aconteciam sequências de programas
chamadas "Programascope" e "Caleidoscópio", que eram
produções curtas e bem criativas, às vezes entremeadas com técnicas teatrais de
jogral. A dinâmica dessas produções exigia uma intensa movimentação de
locutores e atores, que obrigava o estúdio-B a operar com as portas abertas. Nessas produções, merece destaque
especial a figura do técnico de som (controlista como era chamado) cuja
habilidade em trocar os discos e faixas das vinhetas sonoras era essencial para
o sucesso. Walter Teles e Leonardo Teles eram os astros desse espetáculo. E era
tudo ao vivo.
A Cultura tinha um programa diário de intercâmbio com os
ouvintes, o "Caixa Postal 81",
apresentaado por Alencar Filho e Acácia Maria e também um noticiário
informal apresentado por Alencar Filho.
Eram locutores da Cultura nessa época: Sodré Junior,
Raimundo Almeida, Oscar Macedo Filho (que foi trabalhar na Rádio PanAmericana
de São Paulo), Luciano Alves (que foi para a Rádio Globo do Rio), G.Rezende,
José Augusto Prudente (eu), Aloisio Lisboa (que foi para a Rádio Bahia em
Salvador, Ana Gardênia, Acácia Maria, Dimarães Mota, Manoel Silva (que apresentava
"Manhã Sertaneja" e a "Crônica da Ave Maria"), Hélio
Fernandes, Gilvan Fontes (que fazia o Roteiro das Onze), Irandi Santos, João Batista, Dermeval Gomes, Acival Gomes e outros.
As transmissões esportivas tinham o comando de Raimundo
Luiz, narração de Paulo Gomes e
comentários de Coelho Menezes, Alceu Monteiro e Wellington Elias.
Rádio Atalaia de
Sergipe.
Nascida também sob inspiração política, em 1968, a Rádio
Atalaia funcionou inicialmente no
Edifício do Hotel Palace, na Praça General Valadão, mudando-se depois para a
colina do Santo Antônio, onde viria a funcionar também a TV Atalaia, ambas do
ex-governador Augusto Franco. Tinha 10 Kw na antena e foi dirigida por Sodré
Junior e Nairson Menezes. Não tinha auditório próprio, mas chegou a apresentar
um programa de auditório a partir do Cine Rio Branco, na rua João Pessoa, com
entrada franca, comandado por Oliveira Junior. Seus locutores foram Paulo
Roberto e Carlos Macedo, egressos da Rádio Esperança de Estância, Eliana Reis,
José Augusto Fontes, José Augusto Prudente, que apresentava o programa Todo
Assunto Puxa Música, Carlos Mota que apresentava o Show de Noticias, com a
participação de Nairson Menezes fazendo dois tipos caricatos (Lilico Suingue e
Dona Fifica), Laurindo Campos apresentava o programa "Fatos sem
Fotos", uma crônica social, e Sodré Junior apresentava um programa
jornalistico diário de entrevistas, chamado "Lavamos as Mãos". O
departamento de jornalismo era comandado por Sergio Gutemberg e no departamento
esportivo atuavam Paulo William, Augusto Azevedo, Gilson Rollemberg, Antonio
Lobão e Carlos Rodrigues.
Outras emissoras.
Por pouco tempo funcionou também uma rádio-escola
diretamente da antiga Escola Industrial
de Sergipe, destinada à formação de técnicos em eletrônica e telecomunicações.
Esta emissora lançou dois locutores que viriam a atuar em rádios comerciais
normais: Carlos Machado e Jairo Alves, este de muito sucesso, ainda em
atividade na Rádio Cultura.
Finalmente,
apareceram as rádios FM Atalaia, Jornal-FM, Aperipê-FM, Liberdade-FM,
FM-Sergipe, Ilha, 103-FM, UFS, Delmar (hoje Jovem-Pan), Aracaju-FM e outras.
Na mesma época do surgimento das FMs, foi visível o
surgimento e o rápido desenvolvimento de rádios com motivação religiosa. A
Rádio Cultura, que já era católica, passou a ser administrada pelo grupo Shalon
e deixou de ser uma rádio comercial para se transformar numa rádio por assinatura,
custeada por contribuições de
associados. A Rádio Atalaia foi arrendada por uma igreja evangélica. Surgiram
diversas FMs de programação gospel e estritamente evangélicas. Algumas
emissoras foram arrendadas a grupos religiosos e perderam suas caracteristicas
originais. Diveras cidades do interior passaram a ter suas rádios locais
(Tobias Barreto, Geru, Simão Dias, São Domingos, Glória, Itaporanga, Itabaiana, Lagarto, Frei Paulo,
Estancia, Carmópolis e Canindé). Em consequência, o mercado de trabalho
aumentou consideravelmente nos anos mais
recentes.
Os Departamentos
Técnicos.
A história do rádio não estaria completa se não incluisse a
figura carismática de Pedro Apóstolo de Jesus, um técnico autodidata que sabia
tudo sobre transmissão de rádio. Foi pessoalmente técnico da Difusora e da
Liberdade e deixou como legado seu filho José Apóstolo que assumiu a técnica da
Rádio Cultura. Mas quando a bronca era grande, o velho pai era chamado e
socorria o filho. Grande parte da experiência de Pedro Apóstolo veio da
montagem de inúmeros equipamentos de rádio amador, hobby que esteve em alta
décadas atrás. Eram equipamentos potentes acionados a válvulas (não existia
essa coisa de transistores, circuito integrado, etc.). A Rádio Jornal contratou
o técnico José Augusto e a Atalaia o competentíssimo técnico Aldomanúcio
Rodrigues.
Invariavelmente, as rádios AM tinham uma mesa de som de 4 a
6 canais mono (não estereofônicos). Um canal para um tocadisco, outro para um
segundo tocadisco, um para entradas de linha auxiliar e um ou mais para
microfones. O controlista sentava-se à mesa, entre os tocadiscos e tinha em
frente as chaves de linhas e microfones, os botões de volume de cada canal, um
medir chamado VU-meter que mostrava no ponteiro o nível de modulação. Se fosse
pequeno a rádio não desenvolvia sua potència; se fosse excessivo o som
distorcia e a rádio terminava desarmando (saindo do ar). Ainda mais em frente ficava "o aquário" (um visor de
vidro duplo através o qual o locutor na cabine se comunicava por gestos com o
controlista). Entre os controlistas que atuavam na época, destacam-se Leonardo
Teles, Walter Teles, Moacir Lima e Adoniel Amparo da Cultura, José Antonio, Almir Andrade
e Tuca da Jornal, Almerita Rodrigues e
Jane Vieira da Atalaia.
Na técnica havia também 2 receptores de rádio, sendo um para
se ouvir a própria estação e outro para sintonizar outras rádios a serem
retransmitidas, como no horário da Voz do Brasil. O som produzido nos estúdios
chegava aos transmissores, localizados fora da cidade, através fios que seguiam
pelos postes da rede pública de distribuição de eletricidade. Só a Rádio Cultura dispunha de um link de FM
para este fim.
O Departamento de
Jornalismo.
O rádio sempre teve no jornalismo um dos seus principais
focos de atenção. Em toda programação de rádio os programas noticiosos eram bem
destacados. Nas grandes emissoras de fora, as noticias eram redigidas a partir
de informações de repórteres, ou captadas de agências noticiosas tipo United
Press, France Press, Meridional, etc. Em
Aracaju nenhuma rádio assinava esses serviços noticiosos. Houve um tempo em que
a Rádio Cultura contratou rádio-telegrafistas suficientemente hábeis para
captar as trasmissões das agências e datilografar as notícias (Rios, Gouveia e
Novais foram alguns). A transmissão em código morse era extremamente rápida e
mesmo estes profissionais às vezes não conseguiam captar tudo. As notícias
saíam com palavras trocadas ou faltando. Era indispensável uma revisão por um
redator para que pudessem finalmente ser lidas pelo locutor. Esse esquema era
caro e trabalhoso. O normal, usado por todas as estações, era se sintonizar
rádios do sul (Bandeirantes, Nacional, Tupi, etc.) e gravar seus noticiosos em
gravadores de fita (ainda não havia o cassete). Feita a gravação, o redator
sentava-se à maquina e, parando e soltando a fita, às vezes voltando para
entender algum trecho obscuro, transcrevia para o papel as notícias. Não raro,
alguma interferência nas ondas curtas das rádios do sul do País, justo naquele
ponto crucial, dificultava o entendimento do redator e saiam coisas hilárias,
tipo: “o senhor fulano foi homenageado e recebeu o título do doutor Honório de
Caldas…” (era doutor honoris-causa), ou “a policia conteve os manifestantes com
o uso de bombas de efeito mortal (era efeito moral), etc. Por vezes o locutor
só se apercebia do erro após ter falado a asneira, e a gargalhada no ar era inevitável. Antes dessa "moderna
tecnologia", havia a "tesoura-press", que consistia em recortar
páginas de jornais impressos, colando as notícias num papel a ser lido pelo
locutor.
Com o advento dos mini-gravadores cassete o rádio-jornalismo
teve um grande impulso na cobertura de eventos locais. Os reporteres tinham
agora meios práticos de gravar depoimentos de pessoas, editá-los e inserí-los
nos noticiários.
Os departamentos de rádio-jornalismo tiveram em Sérgio
Gutemberg e Jurandir Cavalcante seus maiores expoentes. Carlos Augusto Fiel,
Roberto Batista e Alberto Montalvão também contribuiram.
O Departamento
Esportivo.
Neste que é o "país do futebol", os programas
esportivos sempre foram campeões de audiência. Toda nova rádio logo formava a
sua equipe esportiva, criada em torno de um grande nome de destaque, seja em
narração de futebol ou em comentários esportivos. Na Difusora, o astro era José
Eugênio de Jesus, ainda vivo, muito querido e respeitado. Na Liberdade, brilhou
o polêmico Silva Lima (falecido). Na Jornal, o maior astro foi, sem dúvida,
Carlos Magalhães, ladeado pelo comentarista Wellington Elias. Na Cultura, o
destaque foi Raimundo Luiz, que era
respeitadíssimo no papel de comentarista, ficando a narração a cargo de Paulo
Gomes.
Em busca de prestígio e consequentemente de patrocinadores,
Carlos Magalhães teve a ousadia de viajar para cobrir uma copa do mundo no
México em 1970. A equipe da Jornal, comandada por Glau Peixoto, conseguiu
proeza igual.
Em torno dos líderes de equipe havia sempre um séquito de
colaboradores entusiasmados, ávidos por uma oportunidade de brilharem também
aos microfones das programações esportivas. Entre esses colaboradores figuravam Coelho Menezes, Antônio Pádua, José
Carlos, Geraldo Barreto, Geraldo Oliveira,
Geraldo Chagas, Tito Viana, Paulo Wilson e outros, muitos outros.
O Departamento
Comercial.
Sem aquela aura de encantamento, mas não menos importante, o
departamento comercial das emissoras cumpria seu papel essencial de suprir os
recursos necessários para a atividade dos demais departamentos. Muitas vezes os
próprios locutores e apresentadores faziam as vezes de contatos publicitários,
corretores de anúncios e relações públicas no trato com comerciantes e
industriais locais, colocando seus programas a serviço do mercado. Um dos
profissionais de destaque nessa área foi Aloisio Santos da rádio Jornal.
Assinados os contratos, o empresário ou a agência publicitária fornecia o
material de divulgação (textos e jingles), os textos eram postos nas pastas do
estúdio, os jingles enviados para a técnica e a publicidade acontecia. Em
alguns casos, gravações eram feitas na própria rádio ou em estúdios de gravação
como o de "seu" Orico, delas resultando os discos de acetato tocados
na programação. Dermeval Gomes foi um locutor campeão de gravações, e por muito
tempo sua voz era ouvida nas vinhetas da Rádio Sociedade da Bahia.
Curiosidades:
- A Rádio Difusora era muito fraca (tinha só 1 kw de potência
na antena) e, de brincadeira seus locutores diziam (fora do ar, naturalmente):
"Rádio Difusora, falando para Aracaju e cochichando para o interior".
- Num programa informativo diário o locutor dava também
informações típicas de almanaque, como santo do dia, etc. O Álvaro Macedo,
talvez o mais gozador entre todos, uma vez abriu o programa e mandou:
"Santos do dia: Santos Mendonça, Santos Santana e Santo Souza" (nomes
de colegas da emissora).
- Outra feita, o Alvaro Macedo teria aberto o noticiário com
as "Manchetes do Dia" e
anunciou uma serie de manchetes bombásticas, dizendo em seguida: "É
Primeiro de Abril" (dia da mentira).
- As transmissões externas sempre foram um desafio nos tempos
em que não havia links VHF e outras
facilidades comuns nos dias de hoje. Os
técnicos esticavam antenas provisórias e
ligavam pequenos transmissores portáteis
alimentados por bateria. Nem sempre conseguiam ser ouvidos no estúdio. Para
informar que estava ouvindo a transmissão, o controlista cortava
momentaneamente o som da rádio. Os ouvintes simplesmente nao sabiam de nada e
pensavam ser um defeito passageiro.
- Sempre que possivel, usava-se ligações telefônicas para a transmissão
de reportagens externas. Quando houve a visita do Núncio Apostólico (uma
autoridade eclesiástica) a Aracaju, a Rádio Cultura montou um esquema para
transmitir a passagem da comitiva por diversos pontos, desde o aeroporto até a
Catedral. Repórteres foram colocados em residências de pessoas amigas que
disponibilizaram seus telefones e, um a um, esses reporteres discavam para a
rádio à medida que a comitiva se aproximava de cada ponto e transmitiam a
informação falando diretamente ao telefone, prontamente irradiado.
- Nas transmissoes esportivas não havia rádios portáteis.
Todo jogo irradiado implicava no lançamento de centenas de metros de cabos de
microfone, da cabine de locução até o gramado, onde os reporteres de campo
narravam e faziam suas entrevistas. Ao fim da partida, tudo aquilo tinha que
ser novamente recolhido e guardado até o próximo evento.
- Alguns locutores falavam tão perto do microfone que seus
lábios até o tocavam. Sodre Junior dizia:
"se puser um salzinho, ele come".
- Houve uma época em que
artistas famosos como Emilinha Borba, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, viajavam pelas capitais do Brasil
e se apresentavam nos auditórios das rádios ou nos cinemas, às vezes trazendo
seus músicos, às vezes contratando localmente músicos para lhes acompanhar.
Geralmente esses artistas eram assediados pelos radialistas locais em busca de
entrevistas, que enfim lhes dava certo prestígio e audiência. Silva Lima era um
que não deixava passar em branco. Algum artista famoso aportava aqui e lá ia
ele fazer perguntas, quase sempre previsíveis e repetitivas, tipo "o que
está achando de nossa cidade?" ou "que prato você gosta de comer
?" e futilidades semelhantes. Não interessava muito o que se perguntava
nem tampouco o que se respondia. O importante era marcar presença e estar a
celebridade falando ao microfone da rádio.
- O Informativo Cinzano era realmente surreal: sempre que
alguma criança da família do dono da rádio aniversariava, Silva Lima anunciava
no meio do noticiário, entre as mais dramáticas notícias : “ … - (pausa) ... vamos
interromper as noticias do Informativo Cinzano para anunciar uma notícia que
nos é muito grata: está aniversariando hoje a linda garotinha…(pausa)...” e
seguia o noticiário.
Epílogo.
E assim vamos encerrando esta narrativa que pretendeu dar
uma visão ampla sobre a atividade radiofônica em Sergipe e seus bastidores,
mormente nos tempos heróicos que precederam a televisão e a proliferação das
rádios FM. É antes de tudo um tributo aos abnegados e sonhadores entusiastas
que construiram esta história, com mil desculpas pelas omissões dos que não
foram lembrados. Em breve tudo isto estará sepultado num passado remoto e ouso
vaticinar que logo, logo a tecnologia terá substituido antenas, transmissores,
cabos, válvulas e transistores por meros aplicativos em tablets e smartfones. O
rádio será cem por cento digital e sua difusão será pela internet, com alcance
mundial e praticamente sem custo. Hoje já temos, não um dial de ondas médias e
curtas, mas um aplicativo pelo qual selecionamos e ouvimos a rádio virtual que
queiramos, em qualquer país do mundo, em qualquer idioma. Não é futurologia. É
fato. Mas ainda sobrará um radialista sonhador, microfone na mão, comunicando,
divertindo e informando, tal e qual seus antepassados.
*Texto ainda sujeito a acréscimos e revisões.
Texto reproduzido do blog: jasprudente.blogspot.com.br
Esta matéria me fez reviver os anos 70 e setenta e um quando Hélio Fernandes Apresentava o programa O Show É Nosso na Rádio Cultura. Esse programa também era apresentado, com calouros de Sergipe no Bairro Siqueira Campos, no cenema Bonfim do Monsenhor João Lima. Eu fiz parte do programa cantando na dupla Os Basques.
ResponderExcluirJosé Raimundo, gostaria de ouvi-lo, pois estou escrevendo um livro sobre o Aribé, onde trato dos cinemas - e dos programas de auditorio que havia lá, claro! Quando eu tinha uns 10 anos, eu tbem cantei lá, mas fui vaiada!!! Meu face: cristina cerqueira.
ResponderExcluirMeu e-mail: tereza.cerqueira57@gmail.com Aguardo ansiosa sua colaboração.
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