Aracaju, 16 de Julho de 2009
Personagens do rádio destacam 70 anos de história da Aperipê
AM
Por Igor Matheus *
Sete décadas de atividade somam muitas histórias, reúnem
muitas figuras, costuram muitas épocas. E, como símbolo de longevidade,
bastariam para transformar o aniversário da Aperipê AM em uma celebração de
sucesso. Mas a comemoração vai além disso: quando as primeiras ondas foram
transmitidas no já longíquo 30 de junho de 1939, não estava apenas estabelecido
o marco inicial do que seria um grande complexo de comunicação, mas também o
verdadeiro ‘Big Bang’ das atividades radiofônicas no estado de Sergipe. E a
Fundação Aperipê lembrará de tudo isso às 19 horas desta quinta-feira, 16, com
uma grande solenidade festiva no teatro Lourival Baptista em homenagem à existência
e também à retomada de sua septuagenária semente.
Diversas figuras ilustres que fizeram parte dessa longa
trajetória ainda mantêm na lembrança muitos momentos de vitórias, dificuldades
e, sobretudo, muito trabalho à frente ou atrás dos microfones. Um dos mais
antigos dentre eles é o lendário José Eugênio de Jesus, o popular ‘Zé Eugênio’.
Célebre decano do rádio sergipano, o jornalista é uma das pouquíssimas
testemunhas vivas da época de nascimento da rádio Aperipê AM - à época nomeada
com o prefixo ‘PRJ-6’ - , onde começou como participante do programa ‘Calouros
em Desfile’, de Alfredo Gomes, no próprio ano inaugural de 1939.
“Meu contato com a rádio se deu ainda como platéia, quando a
emissora funcionava no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe [IHGS].
Naquela época eu também já tinha uma página esportiva no antigo Sergipe Jornal.
E o Alfredo Gomes, que também era diretor artístico da rádio, gostava muito de
esporte. Então fizemos uma espécie de intercâmbio. Ele passou a contribuir com minha
página e eu passei a ser comentarista esportivo do programa ‘Esportes J-6’,
trabalhando no hoje extinto estádio Adolfo Rollemberg”, conta. Alguns anos
depois, Gomes foi convidado para trabalhar na Bahia e Eugênio assumiu o comando
do programa. “Foram 47 anos de trabalho lá até me aposentar. Foi boa parte das
bodas de ouro que fiz no rádio”.
Dentro de todo esse tempo, Zé Eugênio conheceu todas as
diferentes sedes pelas quais passou a emissora – do IHG ao Palácio Serigy; do
palácio à rua Propriá; de lá para a rua Capela; e finalmente, para a atual rua
Laranjeiras. E o ‘medalhão’ não hesita ao apontar a melhor época da AM. “A fase
áurea foi ainda no palácio Serigy, com os programas de auditório, pois a parte
artística era muito boa. A única que competia conosco nessa época era a rádio
Liberdade, mas tínhamos a vantagem de ter um auditório extremamente bem
freqüentado”, lembra.
O jornalista e radialista também ressaltou seu melhor
momento dentro da emissora. “Foi a cobertura que fizemos da Copa do Mundo de
90, na Itália. Eu já havia viajado o Brasil todo, mas nunca para o exterior. A
equipe era formada pelo Raimundo Macedo, Cadmo Barros, Jorge Henrique e eu. Foi
uma experiência muito boa. E ainda era um tempo em que, para compensar as
deficiências de investimento, a gente distribuía muito bem as tarefas”.
E a satisfação de Zé Eugênio diante das lembranças de sua
longa trajetória profissional na AM, encerrada em meados dos anos 90 mesmo após
ter se aposentado, prossegue. “Trabalhei com vários diretores e
superintendentes. E também sempre fui diretor de alguma coisa, além de nunca
deixar de ser noticiarista também. Vi de perto o sofrimento da rádio para
crescer. Para se comprar um gravador, um microfone, era muito difícil. Quando
uma válvula queimava, a rádio chegava a ficar fora do ar por uns dez dias.
Hoje, com tudo modernizado, ela deu um salto. Mas quero dizer a todos que ainda
fazem parte do quadro da emissora que continuem sempre lutando pela audiência,
pois essa veterana pode crescer mais ainda. Espaço para isso tem”, declarou.
Sergipe conhece Sergipe
O jornalista Jairo Alves é outro que guarda conhecimento
enciclopédico do passado da emissora. Segundo ele, seu ingresso na AM se deu
nos anos 70, como apresentador da programação musical. “Entrar em uma rádio
naquele tempo era um sonho. Era uma chance de ficar famoso, sob os holofotes. E
era, claro, uma oportunidade de se trabalhar com o grandes ‘cobras’ da época,
como Álvaro Macedo, Santos Santana, Hugo Costa. Era a rádio que todos ouviam. E
a gente fazia rádio porque gostava mesmo de fazer”, disse.
Já nos anos 80, Alves se tornou diretor da Aperipê AM. E
acompanhou de perto uma era de vacas magras. “Tínhamos muitas dificuldades. E
senti todas na pele. O Governo preferia divulgar suas ações na mídia particular
e não ligava muito para a emissora oficial. Hoje, não. Hoje a Aperipê recebe
grande atenção do Governo, é formada por gente capacitada e tem um equipamento
que não deve nada às de emissoras do sul do país”, ressaltou.
O jornalista também não deixou de frisar os momentos mais
marcantes que presenciou. “Não esqueço das vezes em que Luiz Gonzaga vinha a
Sergipe. Sempre que ele aparecia aqui,
nunca deixava de participar do programa ‘Festa na Casa Grande’, de Josa,
o Vaqueiro do Sertão. E quando ele aparecia nos estúdios, o mercado fechava.
Era difícil pra ele entrar e sair da rádio de tanta gente que ficava esperando
pra vê-lo”, recordou.
Como ex-promotor da grade musical nos idos anos 70, Alves
lembra do espaço que a emissora sempre deu aos artistas locais. “Eram muitos
programas. Carnera e seu violão, Eronildes e sua orquestra, Deca e seu violão,
Bonifácio e seu Sax, Medeiros e seus Big Boys, The Tops, Dalva Cavalcanti,
Lucinha Fontes. Muitos artistas que não tinham a oportunidade de mostrar seu
trabalho passaram a ser reconhecidos com a AM. Por isso digo que, quando a
Aperipê AM surgiu, Sergipe passou a se conhecer”.
Estrela no forró, lenda no rádio
Baluarte do forró nacional, a cantora Clemilda se sustenta
como uma das apresentadoras mais longevas da atual Aperipê AM. Seu programa,
‘Forró no Asfalto’, está completando este ano 35 anos ininterruptos no ar –
caminho de cujo início ela recorda muito bem. “Eu e o Gérson Filho morávamos no
Rio. Quando terminávamos de gravar um disco, vínhamos sempre pra cá pro
Nordeste. E quando a gente passava por Sergipe, sempre comprava um horário pra
tocar em todas as rádios, inclusive na Aperipê, que na época se chamava
Difusora. A gente tocava ao vivo, tocava discos de outros artistas e recebia
participações também”.
O sucesso da atração na programação foi estrondoso, e não
demorou para que a forrozeira fosse integrada à grade oficial. Só faltava o
nome do espaço. “Tinha um programa no Rio, do saudoso Gordurinha, chamado
‘Forró no Asfalto’. Gostamos tanto do nome que fomos pedir permissão a ele pra
nomear nosso programa aqui do mesmo jeito. Quando ele disse que não tinha
problema nenhum, ficou”, explicou.
Com seu jeito simples e autêntico, Clemilda destaca que
essas mais de três décadas não diminuíram seu prazer de fazer o ‘Forró No
Asfalto’. “Pra mim o programa é um hobby. Há 35 anos é desse jeito, e ele nunca
saiu do ar. É difícil encontrar algo assim por aí, né?!”
Jovem veterano
A carreira do radialista e reconhecido locutor esportivo
Raimundo Macedo na Aperipê AM já soma respeitáveis 33 anos ininterruptos, 30
deles como apresentador do programa ‘Show Esportivo’. E seu ingresso na
emissora ainda está fresco na memória. “Comecei na AM como aprendiz por volta
de 1976. Nessa época eu trabalhava no Jornal da Cidade e na Tribuna de Aracaju
e já havia trabalhado na rádio Liberdade. Foi quando o coordenador de esportes
da Aperipê AM, Paulo Lacerda, me chamou para fazer a cobertura do esporte
amador. Com o tempo, fui ganhando espaço e fui fazer a cobertura dos clubes
profissionais, começando pelo Cotinguiba”, disse.
Assim como Zé Eugênio, Macedo também destacou a cobertura da
Copa de 1990 como o grande momento de sua carreira na emissora. “Passamos 44
dias fora do Brasil. E lembro bem que, quando o Brasil foi eliminado, todos nós
ficamos sentidos, mas o Zé Eugênio, pela responsabilidade de ser o mais velho,
mais experiente e por estar mais focado na cobertura, chorou como um menino e
não foi dormir bem. Apesar de tudo isso, foi uma experiência marcante”,
lembrou.
Macedo ainda ressaltou a nova fase pela qual a emissora está
passando. “A televisão da Aperipê sempre acompanhou com mais ênfase a evolução
tecnológica. Mas a rádio AM, por outro lado, sempre foi meio improvisada. Agora
é que começaram a olhar para ela. E nós, funcionários antigos da emissora,
estamos satisfeitos, e desejamos que ela volte ao topo com força total”, frisou
o radialista.
Pioneira
Diretor da AM desde maio deste ano, o radialista Mário
Sérgio elencou diversos aspectos que fazem com que valha a pena comemorar os 70
anos da Aperipê AM. “Estamos promovendo a digitalização de tudo o que a
emissora tem para que possamos levar para a posteridade uma afirmação daquilo
que ela é. Desde o dia 30 de junho, todos os programas começaram a ser gravados.
Dessa forma, teremos uma vasta fonte de pesquisa com o registro de tudo a
partir dessa data. Alem disso, os programas já são feitos com aparelhagem
totalmente digital. Toda a parte de estrutura foi totalmente remodelada”,
disse.
Também segundo o diretor, a emissora comemora ainda a volta
de uma cobertura da qual ela foi pioneira e, por muito tempo, líder: a do
Campeonato Sergipano. “Em 2008, depois de muito tempo, voltamos com uma
cobertura esportiva do Estadual de igual para igual com as outras emissoras e
muitas das vezes até superando-as”.
Mário Sérgio tambem não deixou de ressaltar a importância da
Aperipê AM para o cenário radiofônico sergipano. “O rádio em Sergipe começou
aqui. Todos os grandes locutores, cronistas esportivos, radialistas, passaram
por aqui. Os grandes programas da rádio sergipana começaram por aqui. Os
programas de auditório começaram aqui. A rádio Aperipê AM, assim, foi pioneira
em praticamente tudo aqui no estado. E essa história precisa ser celebrada”.
Texto e fotos reproduzidos do site: agencia.se.gov.br/reportagens
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