O surgimento da radiodifusão em Sergipe (1)
A radiodifusão sergipana é fruto do Estado Novo (1937-1945).
Afinal de contas, a nossa primeira emissora, a PRJ-6, Rádio Aperipê, surgiu em
1939. Embora a afirmação desagrade aos mais românticos, é inegável o auxílio
que o rádio recebeu neste período.
Os anos trinta vivenciam o avanço do rádio no Brasil e no
mundo. Contudo, apesar da efervescente década de trinta, é somente ao seu
término que os sergipanos desfrutam de uma estação local. A criação do
Departamento de Propaganda e Divulgação Estadual (DPDE), em fevereiro de 1939,
exerceu papel fundamental à inserção de Sergipe na "era do rádio". O
DPDE, órgão com funções essencialmente executivas, marca a pretensão do governo
estadual no gerenciamento da cultura e na autopropaganda.
Elevando a questão da cultura à categoria central, o Estado
Novo empreendeu acirrada campanha de cooptação de intelectuais. Getúlio Vargas,
diversas vezes, manifestou a importância da participação de intelectuais nos
quadros do governo e a necessidade de policiar a cultura no país.
Para remexer a cultura nacional, foram utilizados variados
recursos: do jornal ao rádio. Este último, porém, recebeu especial atenção pelo
potencial que encerrava. Com o rádio, os gerentes estadonovistas esperavam
influenciar comportamentos e ampliar as bases de legitimação do governo Vargas.
A idéia básica era formar no Brasil uma rede de emissoras
semelhante à criada na Alemanha durante o III Reich. Portanto, a criação de uma
radiodifusora em Sergipe cumpriu papel estratégico. Não foi uma aventura, mas
uma decisão (mal) planejada. Em Sergipe, o policiamento já se ensaiava antes
mesmo do padrão broadcasting estar consolidado. Trata-se da Rádio Palácio do
Governo (PYD-2), um circuito-fechado de informações que foi explorado ao
limite, numa tentativa de estabelecer programas no modelo de radiodifusão.
...............................................................................................................
O surgimento da radiodifusão em Sergipe (2):
Alguns programas da rádio PRJ-6
Alguns programas da rádio PRJ-6
Por Dilton Maynard.
A atenção conferida aos programas caminhava em paralelo com
o zelo da PRJ-6 em promover a diversificação temática que, de modo
aparentemente “ocasional”, conquistassem um público mais amplo do que aquele
obtido pelas palestras unicamente doutrinárias, preocupados em divulgar a
ideologia do regime. Assim sendo, um halo de "inocência" envolvia
inúmeros programas. A partir desta suposta inocência, os novos tempos trazidos
pelo Estado Novo se justificavam. Programas como Poesias e Penumbra, Ternura, A
Voz do Estudante, entre outros, eram tentativas de compensar as palestras
enfadonhas. Reduzidas estas alternativas, atrações como as "pelejas"
futebolísticas ganharam atenção.
A tônica das atrações citadas acima era apresentar uma
programação que se propunha simultaneamente educativa e divertida. Irradiado às
quintas-feiras, Poesias e Penumbra é mencionado como um programa voltado a
divulgar a "poesia moça de Sergipe". Informa o anúncio da coluna
Palco-Estúdio, assinada por Rubem Vergara: "Sintonizem todas as quintas-feiras
a Radio Difusora de Sergipe e ouçam Poesia e Penumbra, um programa feito com a
poesia moça de Sergipe. Ontem, às 21:50 foi apresentado (sic) versos de José
Sampaio, a mais legítima expressão da moderna poesia brasileira". Ou
"lembramos aos nossos leitores o programa da Radio Nacional de todos os
domingos "Romance Musical", apresentado sempre às 13 horas"[i].
Assim, cabia na grade do programa a leitura de versos,
comentários sobre estes e seus respectivos autores, apresentando ao ouvinte os
novos nomes da poesia local. Numa linha muito parecida, Ternura (exibido no
mesmo dia de Poesias e Penumbra) era um programa que mesclava a irradiação de
músicas com literatura. A nota de jornal esclarece que: "Ternura é uma
bonita audição da PRJ-6 e oferecida aos seus ouvintes todas as quintas-feiras
às 22 horas. É um programa para você sonhar. Boa música e boa
literatura"[ii].
Por seu turno, A Voz do Estudante era considerado um espaço
para a classe estudantil, sendo apresentado por colegiais numa espécie de
"versão falada" do jornalzinho elaborado pelos estudantes e que
circulava por algumas instituições de Aracaju.
[i] VERGARA, Rubem. Correio de Aracaju. Aracaju, 6 jul.
1945. p. 04. PALCO-STUDIO.
[ii] VERGARA, Rubem. Correio de Aracaju. Aracaju, 6 jul.
1945. p. 04. PALCO-STUDIO.
Foto e texto reproduzidos do Blog: diltonmaynard.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário