sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Colecionador tem quase 200 rádios antigos em funcionamento

João de Ponte e parte de seus rádios 
Foto: Mariane Rossi/G1

Publicado originalmente no site G1 Santos, em 27/09/2013

Colecionador tem quase 200 rádios antigos em funcionamento

Exemplares de 1940 e 1960 fazem parte do acervo do morador de Santos. Português aposentado João André de Ponte tem orgulho da coleção.

Por Mariane Rossi (Do G1 Santos)

Um português apaixonado por rádio tem uma coleção com cerca de 200 exemplares antigos em funcionamento em Santos, no litoral de São Paulo. O gosto pelo objeto começou em terras brasileiras, no interior do Estado de São Paulo, mas foi no litoral que ele teve a oportunidade de reformar algumas raridades que eram consideradas sucatas em ferros velhos.

Ainda menino, João André de Ponte saiu de Portugal e veio morar com o pai em um sítio em Presidente Prudente, interior de SP. Lá, foi apresentado ao rádio e passou momentos inesquecíveis ao lado de vários exemplares. “Quando eu tinha 13 ou 14 anos eu ia para a casa do vizinho para ouvir rádio. A gente morava no sítio e tinha aqueles programas de música sertaneja. Às vezes, a gente ia no escuro, andando até 1 km para chegar na casa do vizinho e escutar rádio. Escutávamos os programas na Rádio Tupi e na Rádio Nacional, e das 20h às 22h, era só música sertaneja, cada dia da semana tinha uma dupla. Todo mundo curtia, era muito gostoso, era uma delícia, a gente viciava”, conta João.

Os anos se passaram e ele teve a oportunidade de ter um aparelho em casa. "Sempre tivemos muita dificuldade de ter rádio. Meu pai, em 1958, o primeiro rádio que comprou foi um Semp. Foi o rádio mais vendido na época. E a paixão foi crescendo mais, mais e mais", conta. Já adulto, mudou para Santos, mas sempre com um rádio a tira colo. Ele virou biólogo e seguiu na profissão trabalhando dentro de hospitais. Quando se aposentou, decidiu que iria dedicar a sua vida ao conserto e restauração de rádios antigos e que guardam parte da história da comunicação do Brasil. "Eu me aposentei e comecei a fazer essas coisas, há uns 10 ou 12 anos", conta João André, que atualmente tem 69 anos.

João, a esposa Maria Irene e alguns rádios
Foto: Mariane Rossi/G1

Na casa do aposentado há exemplares por toda a parte. Ele encontra muitas raridades em bazares, feiras, ferros velhos e até no meio do lixo de carroceiros. "Eu perdi muita coisa, mas ainda tenho rádios aqui que eu comprei em 1960, ainda tenho a nota fiscal dele. Mas hoje temos muita dificuldade de encontrar as peças. É difícil, principalmente os rádios a válvula. Ainda encontro, mas são usados e muito caros", conta ele.

O biólogo aposentado, com conhecimento em eletrônica e montagem de rádios, resgata a aparência e também o som de muitos aparelhos que pareciam estar destruídos. A esposa, Maria Irene de Ponte, de 62 anos, revela que no começo foi difícil aceitar essa paixão do marido. Ela conta que para arrumar os aparelhos, João faz vários testes de som e o barulho é muito alto, tanto que ela prefere fechar a porta da cozinha e deixar João e os rádios no quintal. "E também, às vezes, ele deixa de passear para ficar consertando rádios", fala Irene.

Exemplar holandês da década de 40 
Foto: Mariane Rossi/G1

João mostra, orgulhoso, o fruto de seu trabalho. Após o conserto, os rádios antigos e os toca-discos funcionam perfeitamente e dão um tom de melancolia a todos que visitam a sua casa. O dono faz questão de contar a história de cada exemplar e como ele ressurgiu em suas mãos. Segundo ele, o mais antigo é da década de 1940, que ganhou do avô de um amigo. "O mais antigo eu creio que é da Philips holandês valvulado. Na época, a Holanda já tinha FM. Eles usavam uma frequência um pouquinho diferente da nossa atual, eles tinham FM, AM e ondas curtas. O valvulado portátil é muito difícil de encontrar”, explica.

Rádio de João, da década de 60. (Foto: Mariane Rossi/G1)

Há exemplares também da década de 1950, 1960, 1970 e 1990. São rádios de mesa, de carro, de cabeceira, amplificadores e até toca-discos. Entre as peças mais interessantes está um rádio caseiro de 1950. "Nessa época o pessoal montava em casa e saia mais barato", conta. Por isso o exemplar não tem nenhuma marca registrada nele. Um dos toca-discos mais queridos por João é da década de 1960. O exemplar é de uma marca alemã, mas foi fabricado no Brasil e possui um olho mágico, que indica a sintonia da música. Para João, a graça é ouvir os discos de vinil do cantor Roberto Carlos nesse aparelho que consegue transmitir perfeitamente a voz do cantor.

Pequenos rádios de João (Foto: Mariane Rossi/G1)

O rádio virou companheiro não apenas daqueles que gostam de boa música, mas também dos fãs de futebol. A mania de andar com um pequeno radinho no estádio de futebol fez surgir um rádio bem compacto na década de 1960. João tem duas versões do "Artilheiro", que virou mania durante as partidas de futebol. Ainda há aqueles rádios que remetem as histórias de João, como o primeiro rádio de seu pai, o  rádio em que ele ouviu o anúncio da morte de John Kennedy e o rádio do sogro, entre tantos outros da coleção que se espalha por toda a casa.

A mágica do rádio tocou o português desde que ele chegou em terras brasileiras. No século XX ele relembra o quanto era boa a vida no campo ao som dos passarinhos e do locutor de rádio, trazendo as melhores notícias do dia ou as músicas sertanejas do momento. Como esse tempo não volta mais, ele preserva e resgata o que ainda restou do tempo áureo do rádio no Brasil. "Se eu tivesse começado antes tinha muito mais. Tenho muito carinho por todos, gosto muito disso aqui", fala o saudosista.

João ouvindo um dos rádios que consertou 
Foto: Mariane Rossi/G1

Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com/sp/santos

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