Jairo Alves de Almeida
“A cada por do sol que acontece em minha vida, mais aprendo
com os ouvintes que me ajudam a fazer os meus programas na Rádio Cultura”.
Jairo Alves de Almeida
INTRODUÇÃO.
No momento atual, em que a prática da Ética é uma aspiração
de todo o mundo, reveste-se de significado especial o lançamento de “O rádio em
Sergipe”, obra produzida pelo radialista, jornalista e professor Jairo Alves de
Almeida. Desde os tempos da Rádio Escola Industrial de Aracaju, sua porta de
entrada para o rádio sergipano, passando pela Jornal e pela Cultura, emissoras
nas quais desenvolveu, ao longo dos últimos 50 anos, um trabalho sério,
comprometido com a verdade, Jairo foi, e continua sendo, acima de tudo, um
defensor intransigente da Ética, essa palavra tão usada retoricamente, mas cujo
conteúdo, infelizmente, é praticado, de forma plena, por poucos. A linha
jornalística adotada por Jairo Alves é um exemplo para todos aqueles que fazem
o rádio em nossa terra. Quanto ao livro, trata-se de uma análise retrospectiva
do rádio em Sergipe, começando pelo movimento que antecedeu a fundação da Rádio
Aperipê, em 1939, e passando por todos os capítulos da história desse
importante meio de comunicação social. O estudo é centrado nas emissoras de
rádio AM, segmento que pratica uma programação voltada para a comunidade, com
informação, prestação de serviço, reportagens, debates, enfim, colocando o
jornalismo em defesa da população. São preciosas, de outra parte, as
informações relativas aos diversos serviços de alto-falantes existentes em
Aracaju na primeira metade do século XX, que, ao lado dos carros de som, foram
os verdadeiros precursores do rádio em Aracaju. Também merece destaque a série
de casos pitorescos, alguns hilariantes, que foram coletados pelo autor e que,
por certo, tornam mais atraente a leitura deste livro que veio preencher uma
lacuna na história da comunicação em nosso Estado. A lisura no tratamento dos
fatos enfocados é uma característica do autor, revelada, naturalmente, no texto
elaborado pelo professor de História e grande comunicador Jairo Alves.Ótima
leitura para quem é amante do rádio, esse veículo imbatível. E para quem gosta
de preservar os valores de nossa terra.
Alceu Monteiro
Este livro tem a finalidade de perpetuar a memória daqueles
que com muito sacrifício, fizeram o rádio em Sergipe. Um rádio difícil, amador,
político partidário, envolvido com as elites tradicionais, que apreciam o
elogio e abominam a crítica, tenha ela a intensidade que tiver. Os nomes
citados nesta obra, são de grande valia para o estudante ou curioso dos fatos
ocorridos em nossa comunicação falada. Do pioneirismo do Dr. Marques Guimarães,
João Bezerra, José Amado Nascimento, João Ribeiro, Ferraz Álvares, Alfredo
Gomes, aos mais jovens que hoje continuam a levar a comunicação aos quatro cantos
dessa terra abençoada por Deus. A semente plantada pela PRJ6 de Aracaju, Rádio
Difusora, germinou e produziu frutos. A rádio transformou o comportamento da
cidade provinciana. Grupos artísticos se organizaram, conjuntos musicais
surgiram, os cantores, que até então eram revelados em rodas de amigos ou nas
serestas ao ar livre, agora encontram guarida e apoio no estúdio, o grande
palco das apresentações. As orquestras despontaram e o Estado foi unificado em
torno da rádio. Sergipe agora estava unido de ponta a ponta. Não tinha cidade
ou povoado que não fizesse um movimento para adquirir um receptor de rádio para
ouvir Aracaju, para ouvir o que se transmitia da capital na freqüência de 630
kHz.
Aracaju estava integrada ao Brasil. Era uma das poucas cidades,
ou Estados, em que o rádio chegara. O Governo de Eronides Carvalho se não
tivesse realizado grandes obras, bastaria essa, a criação da rádio para
justificar a sua administração. Com o advento da rádio, o Estado se une, se
unifica e se entrosa. A memória do rádio, finalmente começa a ser preservada
com esta obra, que focaliza no seu primeiro livro, nomes que edificaram e
edificam a nossa radiodifusão. Neste ano de 2013, dois fatos importantes
enobrecem o setor radiofônico sergipano e que são dignos de registro. Primeiro:
o lançamento desta obra que vem ocupar uma lacuna sobre o surgimento da
radiodifusão no Estado, citando nomes e fatos que já eram do esquecimento das
novas gerações, inclusive fatos anedóticos que pintaram o dia-a-dia daqueles
que antecederam as gerações atuais; segundo: os 74 anos da implantação do rádio
em Sergipe, 30 de Junho de 1939. Data esta de suma importância para o
desenvolvimento sergipano. Que este livro - Sergipe: setenta e quatro anos de
rádio seja o início da preservação da memória deste veículo de penetração sem
igual. Formador e informador da opinião pública. Relicário da cultura,
timoneiro da paz e propulsor do progresso. O rádio, apesar do avanço da
tecnologia e da modernidade propiciada pelas transmissões via satélite, ainda
continua altaneiro, moderno, ágil. É o maior veículo de comunicação de massa.
Tudo na era moderna depende do rádio... a TV, o satélite, o
telefone celular, os comandos remotos, enfim, é o rádio o responsável pelo
progresso ocorrido no século XX e vai continuar emprestando a sua colaboração
no milênio atual. Por isso, que ele deve ser exercido com altivez, dignidade e
responsabilidade.
JAIRO ALVES DE ALMEIDA - Professor, Radialista e Jornalista.
Licenciado pela Universidade Federal de Sergipe, em 1973. Nos idos de 1962,
aluno da Escola Industrial de Aracaju (hoje Instituto Federal de Sergipe), fez
teste para locutor da rádio escola e numa seleção de 500, conseguiu ser
aprovado. Da rádio escola vai para a rádio Jornal, em 1963, onde inicia realmente,
sua vida de radialista. Além da Jornal , trabalhou na Atalaia AM,
Difusora(Aperipê) e Rádio Cultura, onde permanece há 34 anos. Foi repórter da
TV Sergipe, TV Atalaia, colunista da Tribuna da Bahia e repórter da agência de
notícias EBN, hoje Agência Brasil, participando da edição do noticioso “A Voz
do Brasil” por quase 10 anos. No início da carreira foi locutor comercial,
passando para apresentador de programas musicais, destacando-se Os Brotos
Comandam, apresentado pela rádio Jornal, diariamente, às 13:30 horas. Foi
fundador da TV Sergipe e dos Sindicatos de radialistas e jornalistas. Como
Professor exerceu os cargos de Vice-diretor dos Colégios Atheneu e Tobias
Barreto. Foi Diretor do Colégio Acrísio Cruz. Além de lecionar neste Colégio,
foi professor do Colégio Paulo Sarazate, em São Cristóvão, todos da Rede
pública estadual. Na rede particular , foi aluno e depois lecionou no Colégio
Jackson de Figueiredo, dirigido pelos mestres Benedito e Judite Oliveira. Na
imprensa e mais precisamente, no rádio, foi orientado, no início de carreira,
pelos competentes profissionais, Carlos Magalhães e Nairson Meneses. É um
profissional que prima pela ética e pela valorização da categoria. Como
radialista que opina, elogia e critica. Impõe o respeito pelas posições que
toma e pelo exemplo na vida particular. Um homem público deve se impor, também,
pelo exemplo. É de uma geração de profissionais que cumpre a ética e que na
comunicação sabe separar o individual do coletivo.
Jamais se interessou pela política partidária, para não
correr o risco de se colocar diante do microfone a serviço do interesse
particular. Respeita a opinião contrária.
Ninguém pode servir ao povo e ao mesmo tempo a autoridade
constituída. Mesmo do lado da massa, a autoridade deve ser resguardada,
respeitando-se a hierarquia, ordenadora da paz e da tranquilidade nas
sociedades civilizadas. Ser integrante da imprensa é uma empreitada de muita
responsabilidade a qual deve ser encarada com muito profissionalismo,
responsabilidade , competência e independência. O homem que orienta a
comunidade, o comunicador, não deve se vender ou trocar seus serviços por
causas nocivas à própria liberdade de imprensa. O comunicador deve ser sério,
honesto e de ações transparentes. Nessas três décadas de rádio, me sinto a cada
dia, como se estivesse iniciando. A cada por do sol que acontece em minha vida,
mais aprendo com os ouvintes que me ajudam a fazer os meus programas na Rádio
Cultura. A profissão como a vida, é um constante aprendizado. O dia-a-dia é a
escola da vida. Amo o magistério e amo o rádio. Se retornasse aos anos 60, no
início da carreira, faria tudo que fiz até agora. Professor, Radialista e
Jornalista.
Atualmente integro o Departamento de Jornalismo da Rádio
Cultura onde apresento dois programas jornalísticos diários e a equipe de
editorialistas do Nossa Opinião, o mais antigo editorial do rádio sergipano.
Aos domingos, como já acontece há 34 anos, estou no ar com o Hoje é Dia de
Retreta. Sou casado, tenho três filhos. Não sou convencido e nem vaidoso. Não
sou melhor ou pior profissional. Creio que me encontro no meio dos que se dizem
que são eficientes. Amo a vida e torço pela diminuição das injustiças sociais.
Vibro com o sucesso dos que se encontram do meu lado, como se fosse o meu
próprio sucesso. Da vida material ninguém leva nada, apenas as ações ficam.
Antes de 1939, Sergipe se comunicava através de pequenos
periódicos que circulavam na Capital e interior do Estado. Pequenas folhas
diárias, a maioria, semanal, que informavam aos sergipanos, geralmente com
atraso, o que ocorria no Brasil e no mundo.
Paralelamente a essa informação dos periódicos, o telégrafo
se constituía na fonte de informação mais rápida que a comunidade dispunha.
Outra grande fonte de informação dos sergipanos: as estações de rádio do Recife
(Rádio Clube de Pernambuco), ou as emissoras do Rio de Janeiro, que eram
sintonizadas muito bem, nos poucos receptores que aqui existiam. Um dos locais
de concentração popular para se ouvir rádio em Aracaju era a residência de um
Pernambucano, localizada nas proximidades do morro do Bomfim, prédio que abriga
hoje a FAESE – Federação dos Agricultores de Sergipe.
O Rádio surge no Brasil em 1922, nas comemorações do
centenário da Independência. Registro aqui, o pioneirismo do Professor Roquete
Pinto, que via no rádio, a oportunidade de levar a cultura e a educação, a um
maior número de brasileiros. Dezessete anos depois, Sergipe ganha a primeira
emissora: Rádio Aperipê. Nasceu vinculada ao Estado. Mas esse não foi o
pensamento inicial dos pioneiros. A exemplo do que ocorreu com a nossa primeira
televisão, que chegou a Sergipe na década de 70 , um grupo de sonhadores se
uniu no final da década de 30, com o propósito de dotar o Estado com o que
havia de mais moderno na comunicação de massa: uma emissora de radiodifusão.
O comerciante João Andrade, da casa O Preço Fixo, tem a
ideia de lançar títulos de sócios com a finalidade de arrecadar fundos e
comprar equipamentos. O fabricante de equipamentos para radiodifusão, Baytom,
envia um emissário a Sergipe, para contatar com os pioneiros do rádio, no
sentido de viabilizar o sonho de se ter uma emissora. Quatro meses depois da
visita do representante americano, todo o equipamento, transmissor, mesa de
som, antena e todo o material da rádio chegaram de navio e foi para o depósito
do Trapiche Lima. Os meses se passaram e o dinheiro para saldar a dívida com o
fornecedor dos equipamentos não era suficiente. A fábrica já acenava retomar
todo o material enviado, embarcando de volta ao Rio de Janeiro.
Durante o Estado Novo, foi criado no âmbito federal o DIP –
Departamento de Imprensa e Propaganda, tendo como Diretor, o Sergipano Lourival
Fontes. Nessa época, existia no Palácio do governo de Sergipe, uma estação
radiotelegráfica de prefixo – PYD2. Era a comunicação oficial do Estado com os
principais pontos do país. Eronides Carvalho, interventor Federal, resolve
transformar esse veículo oficial em fonia, criando um programa de divulgação de
seu governo denominado de a Voz de Sergipe, transmitido diariamente direto do
Palácio, relatando ao povo que ouvia nos poucos aparelhos existentes em
Aracaju. Quem apresentava o programa oficial era um parente da mulher do
governador, funcionário da alfândega, recentemente chegado da capital da
República. O governo Federal quando soube das transmissões da rádio irregular,
através do DIP, envia telegrama ao governador e ao Juiz Nobre de Lacerda, que representava
os interesses da república em Sergipe, dando um prazo de 24 horas para que
aquela programação fosse suspensa. No telegrama, o governo de Getúlio Vargas
sugeria a Eronides de Carvalho que criasse uma estação de rádio para transmitir
seus programas e não utilizasse uma estação telegráfica para tal. Com esse
impasse, o governo estadual partiu logo para uma solução: adquire os
equipamentos que estavam armazenados há quase um ano no Trapiche Lima. Dias
depois chega a Aracaju o engenheiro Carlos Simas para montar os equipamentos da
rádio.
Inicialmente os estúdios da emissora funcionaram no próprio
parque de transmissão, na rua Maranhão. Depois é transferido para o Instituto
Histórico e Geográfico do Estado. Uma linha de som é colocada ligando estúdio (Instituto
Histórico) e transmissor (rua Maranhão).
Através de decreto-lei 171, de 7 de fevereiro de 1939, o
interventor federal cria o Departamento de Propaganda e Divulgação do Estado.
Com fins educativos e de propaganda e divulgação da vida do Estado e dos
municípios, será mantida em funcionamento, sob a direção do citado
Departamento, uma estação de rádio com a denominação de rádio Aperipê de
Sergipe.
Pelo Decreto 4.328, de 30 de junho de 1939, o Presidente da
República, Getúlio Vargas, assina a concessão para a rádio funcionar dentro das
normas estabelecidas pelo Ministério da Viação e Obras Públicas. O artigo único
do Decreto diz: Fica concedida ao governo do Estado de Sergipe permissão para
estabelecer, sem direito a exclusividade, na cidade de Aracaju, no referido
Estado, uma estação destinada a executar o serviço de radiodifusão.
O RÁDIO EM SERGIPE
A rádio inicia suas transmissões com uma programação que se
iniciava às 17h30 e terminava por volta das 23h30. O Chefe do Departamento onde
a rádio foi inserida era João Marques Guimarães que mais tarde veio a ser um
dos bons locutores da pioneira. O nome Aperipê foi escolhido pelo próprio
interventor que nutria uma simpatia histórica pelos Caciques que aqui habitaram
nos primórdios de Sergipe (Surubi,Aperipê e Serigy). No governo de Augusto
Maynard, que sucedeu ao de Eronides, o Departamento passou a ser chefiado por
Luiz Pereira. Maynard Gomes muda o nome da rádio de Aperipê para Difusora e
transfere os estúdios do Instituto Histórico para o Palácio Serigy.
Pioneiros que participaram do primeiro momento da rádio:
Carlos Simas, Evandro Santos(técnico),Antônio Martins Fontes, José Augusto
Ferraz Álvares(eletricista e montador da torre), Tenissom Vicente dos Santos e
Eronildes dos Santos. Na parte artística citamos João Alves Bezerra, José
Raimundo Silva, Alfredo Gomes, José Bonifácio Fortes, João Ribeiro do Bomfim,
José Almeida, José Carvalho, Jairo Amaral, João Melo, Carnera e regional, Seu
Oscar, João Lopes, Neuza Pães, Guaraci Leite França, Macepa, Paranhos, Pinduca
e sua rádio orquestra e o baterista Bissestino. Os programas de calouros
surgiram logo graças ao patrocínio do Laboratório Phos-Kola e do vinho Guaracy.
Esses anunciantes tinham uma verba mensal para a rádio de
vinte mil réis. Mais tarde outros anunciantes se somaram no apoio: Café
Império-de Augusto Barreto, Café Aragipe de Theódulo Cruz, Sulamericano de
Paulo Silva, casa Aurora, Dernier-Cry, P. Franco e CIA, A Fonseca, Lojas Neire,
A Moda, Nelson Martins, Hotel Marosi, Banco de Crédito Sergipense, Banco Dantas
Freire, etc. Esses e outros anunciantes sustentavam os programas de auditório,
inicialmente da Aperipê (Difusora), e depois, das demais emissoras que foram
surgindo.
O povo prestigiava de tal maneira que nos fins de semana
existiam dois a três programas . Os programas sertanejos, com apresentação ao
vivo de sanfoneiros e cantores, enchiam diariamente pela manhã o auditório da
Difusora, no Palácio Serigy. Josa o vaqueiro do sertão, às oito horas,
comandava o seu programa. Já no Domingo pela manhã, o Matinal dos Brotos, com
Fernando Oliveira e a noite, Domingo em festival, com Luís Trindade, eram
prestigiados pelo público que superlotava o auditório. Farta distribuição de
brindes entre os assistentes.
Na portaria era distribuída senha numerada que dava direito
aos sorteios durante os programas. Fubá de milho, vinagre, café, corte de tecidos,
garrafas de vinho, doces, eram os brindes mais comuns sorteados. Era uma
vibração fora do comum quando alguém tinha nas mãos um tíquete sorteado pelo
apresentador do programa. Eu mesmo ainda garoto, fui sorteado no programa
Matinal dos Brotos. Ganhei um quilo de Fubá de milho Garça. Que alegria teve o
menino. Fui receber lá na frente do palco e quando voltei não fui mais para a
cadeira onde me encontrava. Desci as escadas da rádio e fui correndo para casa
mostrar o presente que tinha ganhado.
Os programas de auditório revelaram muitos nomes e trouxeram
a Sergipe, nomes consagrados nacionalmente, tais como: Nelson Gonçalves, Ângela
Maria, Marlene, Emilinha Borba, Orlando Silva, Augusto Calheiros, Luís Gonzaga,
Vicente Celestino, Altemar Dutra, Jackson do Pandeiro, Ary Lobo, Silvio Caldas,
Trio Nordestino, etc. Cantores locais já com nome firmado no público: Edildécio
Andrade, Gravatinha(Agildo Alves) Dão, Lucinha Fontes,Dalva Cavalcante, Denilza
Miranda, Zilda Porto, Antônio Teles, Vilermando Orico, Trio Atalaia, Deca e seu
Violão, Evaristo de Freitas, Seu Oscar, O regional de Carnera, Reginaldo e seu
Conjunto, Amantes da Seresta,Pai Veio e Mané Fubá, Goiabinha, a orquestra de
Eronildes Morais, Floriano Valente, Maria Olívia e seu piano, Tuti Fred, Pipiri
e seu humorismo, Medeiros e seus Big Boys, Djalma e tantos outros, além dos
calouros que sonhavam um dia com o profissionalismo . Era assim o rádio
sergipano até o final da década de 70 e início dos anos 80. Os auditórios
existentes, principalmente o da rádio Difusora, não comportavam mais o número
de pessoas que ia prestigiar os programas.
Quando havia uma atração nacional, o programa era
apresentado fora da rádio, geralmente no cinema Vitória (hoje Lojas
Americanas), ou no cine Rex (hoje Banco do Nordeste). Mesmo ocupando esses dois
espaços grandes, muitos não tinham condições de assistir a apresentação do seu
ídolo; os lugares eram ocupados rapidinhos pelos que madrugavam na fila. A
audiência do rádio era tão expressiva que muitas pessoas passaram a assistir
até os programas musicais no auditório. As novelas da rádio Nacional, exibidas
pela manhã na Difusora, lotavam o auditório. Eram pessoas que vinham ao mercado
e ao comércio e para não perderem o capítulo do dia de sua novela, se dirigiam a
rádio para acompanhá-lo. O que a rádio promovia, o povo prestigiava. Promoções,
bailes juninos, carnavalescos ou de entrada de ano. Casa sempre cheia. A
correspondência volumosa, pois os telefones eram poucos na cidade, cerca de
1.500 e mesmo assim, a maioria nas repartições e empresas. Nas residências, só
da minoria privilegiada. A comunicação do ouvinte era pessoalmente ou através
da carta, do correio. A primeira estação de rádio de Sergipe surgiu, portanto
em 30 de junho de 1939. Reinou soberana, sem concorrência durante 14 anos, até
que em 1953, surge a Liberdade, de propriedade do Industrial e Senador da
república pela UDN, União Democrática Nacional, Albino Silva da Fonseca. No ano
de 1957 é inaugurada a Jornal, Cultura, em 1959 e dez anos depois a Atalaia.
Um fato curioso e que nos chama atenção. O rádio em Sergipe
nasceu da necessidade de se fazer política partidária. Fora a cultura, todas
elas, trazem no seu nascimento, a presença marcante da política, senão vejamos:
A Aperipê surge em 39, da necessidade que o interventor tinha de divulgar para
a sociedade o que ele estava fazendo no governo. Nasceu estatal. Com a
redemocratização do país, dois grandes partidos entram na cena política
nacional e estadual, o PSD – Partido Social Democrático e a UDN – União
Democrática Nacional. Ambos se alternavam no poder. Quem vencia a eleição no
Estado, tinha a sua disposição uma rádio para comunicar-se com os eleitores e,
quem estava de baixo, ficava em desvantagem. A UDN, através do Senador Albino
Silva da Fonseca ganha à concessão da Rádio Liberdade, ZYM20, que faria
concorrência a Aperipê, PRJ6. Com o PSD no poder, as coisas estavam
equilibradas. A Aperipê divulgava o governo enquanto que a UDN tinha a sua
rádio, que era oposição. Mas quando coincidiu da UDN vencer a eleição para o
governo, esse partido passou a ter o monopólio das comunicações no Estado.
Passou a controlar duas rádios, a do governo e a do partido.
O PSD tratou logo de providenciar a sua emissora para não ficar em desvantagem
política. Ganha a concessão da rádio Jornal, ZYM21. Agora as coisas estavam no
equilíbrio. Quem perdesse eleição tinha sua emissora para atacar o governo
estabelecido. No meio da briga política, a igreja católica sentiu a necessidade
de divulgar melhor a sua doutrina, ter o seu próprio veículo de comunicação de
massa, pois até então, possuía apenas um jornal semanal – a Cruzada. O Bispo
Diocesano, Dom José Vicente Távora e o recém-ordenado padre Luciano José Cabral
Duarte idealizaram a rádio para propagar a fé católica. A Cultura, ZYM22 em
ondas médias e ZYC37 nas ondas curtas, inaugurada no dia 21 de novembro de
1959, pelo Ministro José Sette Câmara, representando no ato o Presidente
Juscelino. Na década de 60, a família Franco, ligada ao Chefe político Leandro
Maciel, inaugura a sua rádio... Atalaia. As questões políticas foram tratadas
no rádio sempre de maneira muito agressivas. Nos comícios transmitidos ao vivo
dos bairros de Aracaju, os ataques ao adversário, eram fulminantes. Oradores
inflamados, acobertados pela impunidade, criticavam sem piedade seus
adversários sob o aplauso da multidão agitada. Quanto mais o orador era
vibrante nos ataques, mais a multidão gritava: meta o pau... meta o pau. Eram o
auge das campanhas em direção as eleições. Muito difícil um parlamentar de um
determinado partido sair e vestir a camisa de outro. Quem era Udenista não
vestia nem em sonho, a camisa do Pessedista. Existia a fidelidade partidária e
o partido possuía a sua ideologia, seu programa que era seguido à risca. Os
programas de entrevistas eram apimentados, empregavam termos duros e críticas
que na maioria das vezes feriam o adversário e seus familiares. A Rádio
Liberdade era o Porta Voz da UDN. Silva Lima, um dos mais contundentes críticos
político da época, através do Informativo Cinzano, irradiado diariamente às
12h25 horas, líder de audiência, não poupava críticas aos integrantes do PSD.
Por sua vez, a rádio Jornal, no Vespertino do Ar,
transmitido diariamente às 12h45, apresentado por Cádmo Nascimento, respondia a
altura às críticas desferidas contra o PSD. Um outro programa crítico e
político da Jornal: Risolândia - , baixava o verbo contra todos e tudo que a
UDN fazia e realizava. Era apresentado às noites das sextas-feiras, a partir
das 21h. O programa incomodava tanto ao adversário, que seus apresentadores,
Raimundo Almeida, Nelson Sousa e José Valdir foram ameaçados de morte. O
primeiro e o último foram emboscados e torturados. Segundo os torturadores,
isso apenas era um aviso para que eles parassem com as críticas através do rádio.
O rádio sergipano sempre foi palco de grandes debates políticos. Diversos de
seus integrantes se elegeram a cargos políticos. O próprio Silva Lima foi
Vereador, como também o foi Cádmo Nascimento, José Batalha de Góes- Batalinha,
Carlito Melo, Flodualdo Vieira, Rosalvo Silva, Narciso Machado, Santos
Mendonça. Também tiveram mandato Reinaldo Moura, Laércio Miranda, Adelson
Barreto, Gilmar Carvalho e tantos outros que postulam a vida parlamentar, tendo
o rádio como o cabo eleitoral por excelência. Foi assim e deve continuar por
muito tempo. A política lado a lado no dia-a-dia do rádio. Tudo que estiver ao
alcance do adversário para prejudicar a emissora do outro, é feito. A Rádio
Jornal, por exemplo, para ir ao ar foi uma novela. Tudo pronto para colocar a
estação no ar em fase experimental. No dia em que a montagem dos aparelhos foi
concluída, a Companhia de Força e Luz corta o suprimento de energia. É
providenciada a vinda do interior do estado de um gerador de energia para
colocar a rádio no ar. A fiscalização prende a carga quando esta passava pelo
posto fiscal. Outro gerador foi providenciado. Passou pelo posto fiscal embaixo
de uma carga de madeira. Só assim a rádio inicia os testes direto do
transmissor, no bairro Industrial. No esporte, a política também influenciou.
Quando o PSD estava no governo, a equipe esportiva da rádio Liberdade,
pertencente a UDN, foi proibida de transmitir as partidas do campeonato
sergipano, no Estádio Estadual. Silva Lima, diretor da rádio e chefe da equipe
esportiva, acompanhava o campeonato, transmitindo do telhado das construções
próximas ao campo, pelo lado da rua Vila Cristina.
Outro fato curioso envolvendo o esporte. No governo do Dr.
Leandro Maciel, a rádio Difusora possuía um departamento esportivo atuante,
chefiado pelo radialista José Eugênio de Jesus. A Emissora oficial mantinha uma
linha do estúdio, na José do Prado Franco, até o estádio, onde hoje é o
Baptistão e mantinha uma outra linha, do seu transmissor, que estava instalado
na rua Maranhão, até o campo do Adolfo Rolemberg, no Siqueira Campos. A rádio
Liberdade, mantinha uma linha do seu transmissor, que se localizava no final da
rua Lagarto, no bairro São José, até o Baptistão e não tinha essa segunda linha
para o Adolfo, pois a distância era grande. Resultado: quando acontecia de ter
dois jogos pelo campeonato, no mesmo dia e horário, a Difusora dava um show e
monopolizava a audiência, pois a Liberdade transmitia apenas um jogo, o do
Baptistão. Silva Lima inconformado foi ao governador reclamar que a Difusora
estava prejudicando o seu trabalho. No dia seguinte, chega à ordem para a
direção da rádio oficial, determinado que a partir daquele momento só se
transmitia de um campo, um jogo e não dois como vinham ocorrendo. O pessoal
contrariado acabou a equipe e Silva Lima continuou a reinar só, absoluto, até a
chegada da rádio Jornal, em 1958. Com a inauguração da Cultura, no ano
seguinte, o esporte teve novo impulso. A estação cobria todos os jogos do
campeonato sergipano, realizados em Aracaju e no interior do Estado. As demais
não tiveram pique para acompanhar o dinamismo da emissora católica, que chegou
a ter mais de 18 pessoas na sua equipe de esportes. Era líder de audiência na
famosa cadeia de rádio verde e amarelo norte e sul do Brasil, tendo o comando
da rádio Bandeirante, de São Paulo. Qual o ouvinte de rádio que não recorda dos
comentários esportivos de Wellington Elias, Coronel José Felix, do falando
francamente do Raimundo Luís, da narração do Carlos Magalhães, as reportagens
do Gilson Rolemberg, a retaguarda do Gilvan Fontes e do Irandi Santos,
informando o que ocorria no esporte brasileiro e mundial. Era uma senhora
equipe esportiva. Na Jornal, despontava como narrador, Narciso Machado. Equipe
modesta, que fazia seu trabalho decentemente. Houve época em que todas as
emissoras da capital tinham departamento esportivo e transmitiam do estádio.
Outras, como a Liberdade, enveredaram por outros tipos de esporte: basquete,
vôlei, luta livre e box. O rádio esportivo era atuante e não se compara ao dos
dias atuais. Quem não recorda dos comentários do Dipe Azevedo, Lobão, Flodualdo
Vieira, Xavier, Cícero, Siqueira; da narração de Carlos Meneses, Antonio
Barbosa, Alexandre Santos, José Antonio Marques, João Batista Santana, as
reportagens de Tobias, Jota Santos, Fernando Pereira. O rádio esportivo era
rico em valores: Augusto, Canabrava de Mendonça, Haroldo Lessa, Peixinho, Geraldão,
Alceu Monteiro, Jurandir Santos, Macarrão, Perneta, Adilson, Rodrigues, Paulo
Lacerda, Roberto Silva, Wilson Tavares, Paulo Wilson, Geraldo Chagas Ramos – o
brasa, César Cabral, Hilton Lopes, Raimundo Macedo, Cristiano e tantos nomes
que fizeram e fazem o rádio esportivo do Estado. A todos eles, a nossa
homenagem.
Quando o Rádio sergipano surgiu, Aracaju era bem servida
pelas empresas de publicidade existentes em quase todos os bairros. Os
alto-falantes eram colocados de maneira estratégica, objetivando levar o som,
ao mais distante ponto. As mais tradicionais: Tamandaré, do Vereador Milton
Santos, localizada na rua Divina Pastora, 655; Iara, no Bairro Santo Antonio,
de propriedade de Mirom, e, a Voz do Comércio, no bairro São José, coordenada por
Hamilton Luduvice. Mesmo com o advento da Rádio Aperipê, em 1939, as empresas
conseguiram chegar à década de 80. Mantinham uma programação variada desde a
música, notícias, e, até crônicas, geralmente apresentadas de improviso.
Escolhia-se um tema e o locutor desenvolvia, levando às lágrimas, muitos
ouvintes. Na empresa Iara, o comunicador Tapajós, que mais tarde passou a
trabalhar na rádio Difusora, apresentava diariamente “O tema da noite”.
Extraía-se um enredo de uma música, geralmente romântica. Com o BG da música
tema, era elaborada a crônica. A Tamandaré mantinha a Crônica da Ave-Maria e
programas de auditório. Nomes como Augusto Calheiros, Ângela Maria e outros,
estiveram na empresa se apresentando. Os programas de oferecimento musical eram
o forte da programação. A Tamandaré funcionava diariamente das 10 às 13 horas e
das 17h30 às 22h. Profissionais como Jailton Oliveira, Álvaro Macedo, Juarez
Getirana e muitos outros, foram para o rádio depois de se formarem nessas
empresas. A Voz do Comércio marcou época no Aracaju nas décadas de 50 e 60.
Hamilton Luduvice era muito requisitado para cobrir solenidades no auditório do
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Possuía uma equipe volante com
amplificador e projetores de som, que levavam o clima das solenidades para as
ruas mais próximas do auditório. Sua empresa mantinha alguma publicidade.
Diversos comícios de vários partidos políticos, nos bairros de Aracaju, foram
transmitidos pela empresa do Luduvice. Além de locutor, era técnico,
programador e carregador. Fazia questão de levar o equipamento para a
solenidade, montar e desmontar. A esses pioneiros, o reconhecimento do rádio. A
empresa Tamandaré possuía quatro projetores de som: um em frente ao estúdio;
outro na esquina de Lagarto com Divina Pastora; um terceiro, na rua Siriri, na
esquina de São Cristóvão. Cobria todo o Bairro Getúlio Vargas. O amplificador
que a empresa usava era da marca Sedam, importado. Era o lazer da comunidade.
Com a chegada do rádio e com as facilidades para a compra do receptor, as
empresas foram se tornando desnecessárias e até inconvenientes, pois quando
entravam no ar, prejudicavam sensivelmente a escuta do rádio. Elas foram sendo
empurradas para os bairros mais afastados do centro da capital, justamente
aqueles onde a população pobre, não tinha condições de adquirir um receptor.
Dos bairros, as empresas foram deslocadas para o interior, onde ainda hoje se
encontram. Com a chegada do rádio, Sergipe passou a ser mais conhecido, pois
figuras políticas, personalidades e artistas, constantemente estavam por aqui.
Na inauguração das novas instalações da Difusora, no prédio
anexo ao Palácio Serigy, em 1944, no governo de Maynard Gomes, o Estado foi
visitado pelo Coronel Costa Neto, Diretor geral da Rádio Nacional do Rio de
Janeiro; os Jornalistas Danton Jobim, Mário Correia, José Augusto Sobrinho
Macedo Soares, André Cxarpadoni – redator chefe do jornal A Noite, do Rio de
Janeiro, e, outros nomes de expressão nacional. A Rádio Aperipê nasceu com este
nome, numa homenagem a um dos três caciques que aqui habitavam no início da
colonização. No governo de Maynard Gomes, alguns intelectuais, dentre eles,
Severino Uchoa e Ephifânio Dória, achavam que era uma homenagem desnecessária.
O governador para não desagradar a essa ala da cultura, quando transfere os
estúdios do Instituto Histórico para o Palácio Serigy, dá o nome a emissora
Oficial de Difusora, o qual permaneceu até a década de 80, quando o governador
João Alves Filho, cria a Fundação Aperipê, englobando TV, Rádios AM e FM. Para alguns
historiadores, a mudança de nome se deve a problemas políticos. Maynard não se
afinava com Eronides, o fundador da Rádio. Queria deixar sua marca profunda,
trocando o nome da estação. Depoimentos de pessoas que viveram o momento dão
conta que a troca de nome foi motivada pela insatisfação de boa parte da
intelectualidade da época.
Jairo Alves de Almeida.
Texto e imagem reproduzidos do site: cultura670.com.br
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Excelente texto!
ResponderExcluirConheci Jairo Alves no final dos anos 1960. Magro e com uma voz de trovão.
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