Foto: Igor Matheus/ Portal Infonet
Publicado originalmente no Portal Infonet, em 23/08/2014.
Milton Neves: "a torcida me xinga, mas me assiste”
Em Aracaju para evento, jornalista comentou sobre vários
temas
Ele não mede palavras – e ainda é muito bem pago por isso.
Um dos maiores jornalistas esportivos do país, Milton Neves esteve em Aracaju
na última sexta-feira, 22, para dar palestra em um evento de comunicação,
dividir suas experiências com jornalistas e alunos e fazer o que mais sabe:
provocar.
Aos 63 anos, Neves começou no rádio, ganhou programa próprio
em 1982, cobriu diversas copas do Mundo
e hoje vive a fama como jornalista de “studio” ou “indoor” – como ele mesmo
define. E é com esse retrospecto que o mineiro de Muzambinho, dentre suas dicas
de jornalismo, questionou a passividade da imprensa brasileira diante do
técnico Luis Felipe Scolari após o desastroso 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil.
Para ele, era preciso mais do que coragem para perguntar direito: era
necessário fustigar o gaúcho com algumas verdades.
“Felipão convocou uma coletiva querendo se segurar. Tomou de
7 a 1 e levou os fisioterapeutas, o pessoal da alimentação e disse ‘olhe o que
fizemos’. Mas espera aí... Todos aqueles caras tinham que fazer aquilo mesmo.
Ganhavam pra isso. A imprensa deveria ter dito assim: ô Felipão, você tomou de
7 a 1. Você enterrou sua carreira, e vai ser lembrado 98% por causa dessa
derrota, e só 2% por causa de 2002. Para de querer ficar e peça demissão. Por que ainda está aí dizendo que o trabalho
foi bom? Bom foi o trabalho da Copa de 1950, quando o Brasil chegou na final”.
Neves também destacou que o jornalista precisa aprender a
ser mais incisivo e direto nas perguntas. “Geralmente os repórteres de jornal
impresso são mais inteligentes. Mas eles fazem perguntas compridas demais.
Lembro de um que chegou a dizer pro Felipão que o apagão não foi de seis
minutos, mas de seis jogos. Perfeito. Mas aí ele resolveu emendar outra coisa.
Pergunta tem que ser curta e grossa, feito um punhal”.
Conhecido pela memória enciclopédica - que o faz desenterrar
as mais esquecidas escalações de times mais esquecidos ainda -, o jornalista
admitiu não saber absolutamente nada sobre o futebol sergipano. “Não sei de
nada, sou muito sincero. Tanto que escrevi um artigo certa vez em que foi muito
perseguido por aqui. Mas em toda capital escolho um time para defender e outro
pra atacar. Como torcedor, sou só Santos. Mas também sou Coritiba contra
Atlético-PR, Paysandu contra o Remo, Santa Cruz contra o Sport e o Náutico.
Quando você provoca, dá polêmica, e polêmica dá audiência. A torcida me xinga, mas me assiste”.
Neves ainda se mostrou impressionado com a beleza da capital
sergipana, e despertou seu lado “empreendedor turístico” para emendar uma
parábola. “Não imaginava que aqui fosse
tão bonito. Mas Pernambuco e Bahia dão uma aula de divulgação em vocês. É
preciso usar aqui a tática da galinha. A pata, o avestruz e a galinha botam
ovos. Mas só a galinha faz alarde, cacareja, grita quando bota um. Sergipe está
parecendo uma pata ou um avestruz. É um lugar maravilhoso, mas ninguém sabe de
nada daqui”.
Por Igor Matheus.
Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br
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