Vilermando Orico (foto) canta, acompanhado de Antonio Teles,
um dos mais completos artistas do seu tempo em Sergipe
Publicação do site: SERIGY - A história de um povo, em
02/09/2008.
O 'Palácio das Jóias' e as Jóias Humanas
Por Luiz Antônio Barreto.
O descuido para com a memória tem dado imenso prejuízo a
Sergipe e aos sergipanos, e de tal forma que será difícil recuperar os acervos
perdidos, tragados pelo tempo, sem proteção, ou largados ao abandono, sem
cuidados. Os jornais, que são fontes privilegiadas, pela fixação das notícias,
comentários, opiniões, colaborações literárias, estão em estado deplorável de
conservação e muitos deles estão fora de uso. A tecnologia tem permitido, desde
a década de 1980, salvar parte dos jornais, através de microfilmes, CDs, e
outras mídias que, a baixo custo, democratizam o acesso às coleções dos
diários, periódicos em geral, revistas, e boletins. O que é de papel, portanto,
tem alguma sobrevida futura. E o que ficou na oralidade, como salvar?
Jackson da Silva Lima, o sempre bom inventariante da
literatura sergipana, tem transformado velhos discos de acetatos e fitas
antigas, em CDs, recuperando a voz de poetas ilustres para a vida literária
sergipana, como Garcia Rosa, José Sampaio, Mário Cabral, José da Silva Ribeiro
Filho e Santo Souza. Conta, o historiador da literatura, com colaborações de
amigos, como Wagner da Silva Ribeiro, e de acervos locais, que no sacrifício
guardam muitas raridades.
O rádio sergipano, iniciado nos salões do Palácio Olímpio
Campos, para atender aos interesses do Estado Novo, através do Departamento de
Imprensa e Propaganda, que cooptou diversos intelectuais e jornalistas locais,
foi muito além da Rádio Difusora, hoje Aperipê. Na própria Rádio Difusora, na
administração direta ou quando arrendada ao empresário Augusto Luz, surgiram
artistas, cantores e instrumentistas que fizeram nome e receberam aplausos do público.
As disputas políticas fizeram surgir outras emissoras, como
a Rádio Liberdade, ligada a União Democrática Nacional – UDN, tendo como
proprietário o industrial e comerciante Albino Silva da Fonseca, a Rádio
Jornal, capitaneada pelo comerciante Augusto Barreto, do Café Império, o
industrial Jorge Leite, da SULGIPE, e outros integrantes do Partido Social
Democrático - PSD, coligado com o Partido Republicano – PR. Depois veio a Rádio
Cultura, de orientação católica, e, mais tarde outros prefixos, nitidamente
políticos, muitos deles ainda atuantes, como se pode conferir nas manhãs
diárias, quando cada programa se transforma numa espécie de ouvidoria dos temas
gerais.
A radiofonia sergipana contou com programas que tinham
grande afluência de público, nos auditórios, ou de casa, gerando uma audiência
consagradora. Silva Lima, com seu Informativo Cinzano, Santos Mendonça, com seu
Calendário, Carlito Melo, com o Carrossel da Alegria, ou com Manhã Sertaneja,
se tornaram conhecidos, conquistaram mandatos na Câmara Municipal de Aracaju e
na Assembléia Legislativa. E não foram únicos.
Os programas de auditório levavam pelas ondas do rádio a voz
de Vilermando Orico, um menino prodígio, de voz extensa, caprichosamente bem
vestido, que cantava, tocava e ainda assinava algumas das composições do seu
repertório. Vilhermando Orico, nascido em Viçosa, Alagoas, em 1944, chegou
criança a Aracaju, onde seu pai, José Orico, instalou uma metalúrgica e um
estúdio de gravações de acetato, iniciando a produção de jigles e de fitas e
discos de cantores e músicos locais.
No Centenário de Aracaju, em 1955, Vilhermando Orico compôs
e gravou uma música homenageando a cidade e continuou fazendo sucesso até mudar
a voz. Tecladista de primeiro nível, adaptou-se à música instrumental, formou
um Trio que embalava as tardes de domingo da Associação Atlética de Sergipe, e
terminou em Salvador e em São Luiz, como piano bar, até morrer, em 1986, de
repente, na capital do Maranhão.
Seixas Dória, já afamado orador e detentor de mandatos, comandava,
na Rádio Liberdade, dois programas: Resenha Política e Problemas em Debates,
este último contando com a particupação do jornalista e deputado Carvalho Deda.
Silva Lima mantinha, no começo da noite, um programa sobre cinema, e contava
com a colaboração do economista Antonio Rocha, que usava o pseudônimo de Dr.
Gastão. Agláe Fontes comandava o seu Gato de Botas, tendo a ajuda de Santos
Mendonça. Nairson Menezes, chegado de São Paulo, introduziu o uso do telefone
nas emissoras de rádio, apresentando o Disque Disco, que atendia ao gosto
musical popular.
Jóias Humanas de Sergipe era outro programa valioso, de
biografias, que a Rádio Liberdade levava ao ar, em 1954, sob o patrocínio do
Palácio das Jóias, loja situada na rua João Pessoa, nº 13. O patrocinador –
José Gonçalves Lima – era também o criador do programa, apresentado por Santos
Mendonça. Jóias Humanas de Sergipe era um programa semanal, e dentre os
redatores estavam o Monsenhor Carlos Camélio Costa, que dentre outros escreveu
a biografia de Sabino Ribeiro, e o tabelião e vereador João Alves Bezerra, que
tratou de Francino de Araújo Melo (França Melo).
A seleção musical, que mais parecia uma antologia da música
erudita, era feita pelo maestro Genaro Plech, e o programa era retransmitido
pelo Serviço de Alto-Falantes Tamandaré e pela Organização Sergipana de
Publicidade, localizada na Praia 13 de Julho. O que restou do programa foi o
que ficou na memória dos seus ouvintes.
Foto e texto reproduzidos do site:
clientes.infonet.com.br/serigysite
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