sábado, 3 de agosto de 2013

Em crise, Rádio Bandeirantes demite comentarista Mauro Beting

Mauro Beting explica que a notícia não chegou de surpresa 
e que entende a crise da profissão.
 Imagem: Divulgação

Em crise, Rádio Bandeirantes demite comentarista Mauro Beting

Publicado em Sexta, 02 Agosto 2013 07:51
Escrito por Nathália Carvalho.

As contas não fecharam e foi preciso desligar Mauro Beting da Rádio Bandeirantes. Depois de ganhar oito prêmios como melhor comentarista, o profissional deixa a mídia que, segundo ele, era a que mais gostava de fazer. "Jornal é prestígio. Televisão é popularidade. Rádio é prazer. Por que ele vai com a gente ao banheiro, à escola, ao ônibus, pra cama, pra cima, pra baixo. O rádio fala. Mas também ouve", disse em texto publicado no Lance Net.

A tarde de quinta-feira, 1° de agosto, ficou marcada por diversas demissões. O mercado recebeu a notícia sobre o encerramento de quatro títulos da Editora Abril e o desligamento de 150 colaboradores. No final do dia, Band anunciou a saída de Beting. De acordo com o comentarista, a decisão faz parte de corte de custo da emissora. A crise, porém, atinge apenas as rádios. Sendo assim, Beting continua na TV aberta e no Band Sports.

“É uma pena, porque de tudo que eu faço, televisão, aberta e fechada, coluna de jornal, blog, canal do Youtube, é uma pena não fechar as contas justamente do lugar que eu tenha mais prazer em fazer. Trabalhava justamente por ser minha maior paixão”, disse Mauro Beting ao UOL. No texto divulgado em seu blog, ele afirma que sabia que teria de sair do rádio algum dia. "Sabia que haveria um dia em que não conseguiria mais acordar nossa equipe nas madrugadas de Munique tocando a Pamonha de Piracicaba com o Patrick na Copa de 2006. Sabia que um dia não berraria Master Bernard pelas ruas de Johanesburgo numa Copa como a de 2010. Sei que um dia teria de desligar o microfone que tantas vezes apertei o botão errado para abrir, que tantas vezes derrubei no chão, que tantas vezes não acreditei conversar, dialogar, tabelar com Silvério, Milton, Zaidan, Patrick, Ciccone, Capriotti, Quesada, Praetzel, Alex e tantos que continuam ou não na emissora".

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Mauro Beting explica que a notícia não chegou de surpresa e que entende a crise da profissão (Imagem: Divulgação)
Beting afirma que não foi pego de surpresa. “Acho que nenhum jornalista se surpreende porque é um problema sério da profissão que continua", lamentou. O comentarista diz que estudará propostas, mas que sua vontade é voltar para a Rádio Bandeirantes.
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Veja na íntegra o texto publicado por Beting em seu blog:

Voltamos depois do intervalo

“Alô, ouvintes do Brasil” – há quase 10 anos escuto José Silvério sem precisar do fone de ouvido do Douglas, do Abrãozinho, do Jair, de tantos nas cabines e estúdios da rádio Bandeirantes.

“Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo” – há 40 anos ouvi pela primeira vez Fiori Gigliotti começar os jogos que eu sonhava ver. Delirava ouvir. Imaginava sentir na emissora que passei a frequentar quando eu tinha nove anos, em 1975. Quando meu pai foi contratado pela TV Bandeirantes, saindo da Record. Corredores e estúdios da rádio onde meu pai virou comentarista econômico depois de três anos de Jovem Pan, e dois de Gazeta, em 1977.

Sou filho do rádio. Seu Joelmir e dona Lucila se conheceram na 9 de Julho, onde apresentavam “Bombons de Música para a Petizada”. Talvez o pior nome da história do rádio. Mas foi lá que nasceu o amor entre eles. Foi desse amor no dial e dialético que nasceu Gianfranco, meu irmão, meu ídolo, em 1964. Foi nesse amor no éter e eterno que nasceu Mauro, em 1966.

Eu.

Que desde o berço queria ser jornalista por esporte. Ainda mais quando meu pai entrava no estúdio do segundo andar lá pelas 18h para falar alguns minutinhos de economia depois de Fiori, Ênio Rodrigues, Mauro Pinheiro, Luís Augusto Maltoni, Roberto Silva, Paulo Edson, Alexandre Santos e outras feras falarem aos microfones da “Marcha do Esporte”. Era o que eu queria ouvir. Era onde um dia eu gostaria de falar desde aquele 1977 na Cadeia Verde e Amarela.

Em fevereiro de 1999, José Carlos Carboni me deu a chance de realizar um sonho. Ser comentarista esportivo do AM 840, FM 90,9. Mas eu tive de dizer um dos “nãos” mais difíceis e doídos em 23 anos como jornalista esportivo de rádio, TV, jornal, revista, internet, livros, filmes e videogames. Meu Luca tinha cinco meses e não podia ficar sem o pai todos os dias da semana sem folga por causa dos empregos do pai em TV, jornal e internet. Tive de dizer não. Não tinha como conciliar escala. Não tinha como largar o salário maior da televisão. Eu tive de dizer não ao veículo que me dá prazer. Jornal é prestígio. Televisão é popularidade. Rádio é prazer. Por que ele vai com a gente ao banheiro, à escola, ao ônibus, pra cama, pra cima, pra baixo.

O rádio fala. Mas também ouve.

É o melhor amigo do homem. Vai ver que por isso também morde.

Em 2002 quase vim para a rádio Bandeirantes. Era eu ou o querido Roberto Avallone. Reticências… Não fui. Exclamação!

O “não” de 1999 e o “quase” de 2002 virou “sim” em novembro de 2003. O fratello Sergio Patrick teve a ideia. O chefe Carboni reiterou o convite. O diretor Fernando Vieira de Mello assinou. Em 1o. de dezembro de 2003 eu estreei na Bandeirantes. Exatos 12 anos depois da minha estreia em rádio esportivo pela Gazeta.

A primeira transmissão na cabine do Morumbi foi São Paulo x River Plate. Quando Carboni me ligou ao final dela para dizer que eu “acabara” de ganhar o prêmio Ford-Aceesp de 2004 um ano depois. E ele acertou. Desde então, com toda a equipe mais técnica do rádio, com os narradores, comentaristas, repórteres, apresentadores e produtores que temos, só não ganhei um ano o mais cobiçado prêmio do jornalismo esportivo paulista. São oito troféus em casa. Desde 1984, nenhum outro comentarista de rádio ganhou tantos como aquele filho do Joelmir Beting que, a partir de 2004, pela primeira vez em 17 anos de carreira, tinha a alegria de trabalhar com o pai na mesma emissora.

A felicidade de comentar futebol enquanto narraram José Silvério, Ulisses Costa, José Maia, Dirceu Maravilha, Hugo Botelho, Odinei Edson. Enquanto comentaram Claudio Zaidan, Estevan Ciccone, Neto, Paulo Calçade, Fábio Sormani, Flávio Gomes, Fábio Seixas, Fábio Piperno, Erich Beting. Enquanto reportaram Leandro Quesada, Alexandre Praetzel, Eduardo Affonso, Alex Muller, Frank Fortes, PH Dragani, Ariane Rocha, Kamilla Malynowski, Antonio Petrin, Carlos Lima, Dirceu Cabral. Enquanto apresentaram Sergio Patrick, Ricardo Capriotti, Milton Neves, Beto Hora, Lélio Teixeira, Zé Paulo da Glória, Marcelo Duarte, Zancopé Simões. Enquanto produziram Vinicius Mendes, Guilherme Fagundes, Kelly Ferreira, Joãozinho, Vinicius Volpi, Claudia Oliveira, Mario Mendes, Bruno Almeida. Enquanto João Bicev comandava uma seleção de muita técnica. Com Ricardo Garcia, Davi Duarte, Aílton Dias, Nelson Wolter, Zé Pereira, Arthur Figueiroa.

Mais que um timaço de colegas, meus amigos. Alguns mais que amigos. Irmãos.

Campeões da Copa Nike-2004 de futebol. Com o Fred, com o Veras, com amigos que falavam e faziam futebol. Com ouvintes que eram ouvidos. Eram nossos. Não tinha como errar.

Pela rádio Bandeirantes eu deixei de fazer programa com Nasi e Ronaldo Giovanelli na Kiss FM. Pela rádio Bandeirantes eu deixei de ser o comentarista principal da Band em 2007 por priorizar a rádio.

Pela rádio Bandeirantes eu posso ter deixado outras propostas profissionais de lado. Por amor ao rádio. Por prazer de ofício de trabalhar em casa. No meu lar. Como se eu estivesse no meu quarto. Como várias transmissões fiz descalço. Derrubando café na mesa. Assustando Milton Neves no estúdio ao lado. Rindo da desgraça própria. Chorando da emoção alheia. Comentando. Reportando. Analisando. Jornalistando.

Apenas jornalistando. O que é nosso ofício. Por vezes nosso sacrifício.

Falando bobagens involuntárias ou mesmo com a intenção de produzir coliformes orais nas miltonlices da madrugadas. As mauradas que não tinham hora para acabar.

Mas que desde 17h de 1o de agosto de 2013 acabaram.

As contas não fecham. A mídia está mudando. Eu estou mudo no AM 840.

Era preciso cortar números. Meu nome foi cortado da rádio Bandeirantes.

Sabia que haveria um dia em que não conseguiria mais acordar nossa equipe nas madrugadas de Munique tocando a Pamonha de Piracicaba com o Patrick na Copa de 2006. Sabi que um dia não berraria Master Bernard pelas ruas de Johanesburgo numa Copa como a de 2010.

Sei que um dia teria de desligar o microfone que tantas vezes apertei o botão errado para abrir, que tantas vezes derrubei no chão, que tantas vezes não acreditei conversar, dialogar, tabelar com Silvério, Milton, Zaidan, Patrick, Ciccone, Capriotti, Quesada, Praetzel, Alex e tantos que continuam ou não na emissora.

Sei que um dia a Bandeirantes sairia de minha vida como os últimos sons do meu pai na vida foram pela rádio quando ele tentou voltar ao ar, nos 10 dias em que retornou do hospital. Quando um fiapo de voz pela T-Line instalada pelo João Bicev não o deixou voltar ao ar antes de retornar “em definitivo” para o hospital onde saiu do ar em 29 de novembro de 2012.

Quando no começo da madrugada de quinta-feira eu estava entrevistando Rogério Ceni até meu irmão dar a a notícia esperada desde o domingo pela manhã.

Meu pai morrera.

Eu estava saindo do ar. Eu estava fora do ar. Mas alguém precisava dizer que Joelmir Beting havia morrido. Eu mesmo disse. Li o texto que havia preparado para este blog na véspera. Li no ar a morte do meu pai.

Não era para isso que havia sido contratado. Mas é para isso que se é jornalista. Como foi meu pai de 1977 a 1985 na rádio Bandeirantes. Como ele foi de 2004 até morrer em 2012.

Eu fui rádio Bandeirantes do primeiro dia de dezembro de 2003 ao primeiro dia de agosto de 2013. Vou continuar sendo sempre aquilo que não pude mais ser. Com o mesmo prazer e honra que tive agora ao me tornar o quinto trading topic do twitter no mundo por ter sido demitido.

(A todos, todas as palavras que significam obrigado. Desculpem o cabotinismo. Mas estou precisando. Oferecimento: Mauro Beting Ltda.)

Como disse o Johnny Saad no velório do meu pai: “o Alemão é insubstituível”. E meu pai é mesmo. Posso garantir.

Como posso dizer a vocês que leem este blog e não precisavam ficar até o final deste longo texto: “o Mauro Beting é substituível”.

Não foi isso que me foi dito pela minha chefia a quem só posso agradecer pelos 10 anos de rádio.

Ao contrário.

Eles deixaram tão claro a mim como reitero a eles e a todos: as portas e microfones da rádio seguem tão abertas para mim como o amor que tenho pela casa, pelo prefixo, pelas pessoas, pelos colegas, pelos amigos.

Pela minha casa. Pela Bandeirantes.

Saio da rádio. Mas ela não sai de mim.

Assim é a vida. Assim é o rádio. Assim é a crise. Assim é a mídia.

São 2h28 de uma madrugada de sexta-feira. Estou acostumado pelo rádio e pelo Milton a sair tão tarde da emissora. A sair tão tarde de estádios onde já tive de pular muro ou pedir ao vivo que reabrissem os portões para que eu pudesse sair com nosso operador. Desde 2003 sou o jornalista que mais tarde sai de uma cabine e de um estádio. Sou o cara que normalmente apaga a luz. Sou o cara que hoje estou meio que fora do ar.

Desde esta madrugada vou poder dormir mais horas. Só não digo que vou poder dormir melhor.

Obrigado, Bandeirantes, pelo melhor ambiente em 26 anos de Jornalismo.

Obrigado, família Bandeirantes, por continuar na Band e no Bandsports.

Voltamos depois do intervalo comercial.

Foto e texto reproduzidos do site: portal.comunique-se.com.br

Um comentário:

  1. Em menos de 24 horas, Mauro Beting é demitido e recontratado pela Rádio Bandeirantes

    Publicado em Sexta, 02 Agosto 2013 17:40
    Escrito por Redação Comunique-se.

    O jornalista Mauro Beting anunciou seu retorno à Rádio Bandeirantes no fim da tarde desta sexta-feira, 2, via Facebook. A emissora recontratou o comentarista menos de 24 horas depois de sua demissão, por motivos financeiros.

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    Mauro com homenagem que recebeu do Santos após a morte de seu pai, Joelmir Beting (Imagem: Junior Lago/UOL)
    Os diretores da rádio aceitaram o acordo proposto pelo ex-jogador Neto, apresentador da Band, que pediu demissão ao vivo durante o programa ‘Os Donos da Bola’. Em troca, ele pediu a recontratação de Beting.

    Leia Mais:
    Neto põe cargo à disposição para volta de Mauro Beting à Rádio Bandeirantes

    “Tomei essa atitude porque achei sim a mais correta. Devido aos meus compromissos profissionais, até com a própria Band, tenho convicção que o Mauro pode produzir mais para o grupo (já fazia isso). Sem contar que acho ele bom demais!”, publicou Neto em seu blog no Uol Esporte. Com isso, ele deixa o cargo de comentarista esportivo da Rádio Bandeirantes.

    Beting, por sua vez, anunciou que estará de volta ao ‘Esporte Notícia’ na segunda-feira, 5. Na quarta, ele participará da transmissão de Santos X Corinthians. “É por nós que nos acertamos em 24 horas. E por muito tempo”, publicou o cronista esportivo na rede social.

    Veja íntegra do texto publicado por Beting:

    O intervalo da minha rádio é sempre longo. Mérito dela. Mas eu não esperava que fosse tão curto.

    Menos de 24 horas.

    Não é pelos 0,20.

    É pelo 10 que é o Neto.

    É pelo Milton que é mil.

    É por mim que sou AM 840.

    É por nós que nos acertamos em 24 horas. E por muito tempo.

    Obrigado a todos.

    Obrigado à minha família.

    Obrigado Bandeirantes.

    Segunda, 11h30, estou de volta ao Esporte Notícia com Sérgio Patrick.

    Quarta-feira, estou de volta às transmissões da Rádio Bandeirantes com Santos x Corinthians.

    Todos os dias eu sou o que serei.
    Rádio Bandeirantes.

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