Publicado por globoesporte.com, em 13/07/2013.
Com 51 anos de carreira, narrador lança livro relatando
'micos' no rádio.
Conhecido como 'Camisa 10 do Rádio', divertido locutor
esportivo colecionou situações engraçadas dele e de alguns colegas de profissão
Por Thiago Barbosa.
Imagine um locutor esportivo narrando um pênalti em favor do
seu time de coração. No calor da expectativa de ver o gol confirmado, ele solta
o palavrão: "Zazir vai para cobrança! Correu...bateu...Oh, p***, pra
fora"!! Pense num destemido repórter, que noticia as coisas erradas que
acontecem em um clube e ganha a antipatia de jogadores e treinador. Após um dos
jogos desta equipe, ele vai aos vestiários para fazer as entrevistas. Lá,
percebe que o clima não está bom para o seu lado e diz no ar: "Se a
qualquer momento eu deixar de falar, é porque 'piquei' o microfone na cara de
um corno deste aqui que está me cercando". Vislumbre também outro
empunhador de microfone que, ao querer atestar que não houve um gol, dispara:
"dou o meu C*** se essa bola entrou". As passagens fazem parte do
folclore do rádio esportivo sergipano, cuidadosamente catalogadas e recontadas
em livro pelo narrador e apresentador Antônio Barbosa, que completa 51 anos de
carreira em 2013.
No livro Pagando Mico no Rádio, o 'Camisa 10', como é
conhecido no meio, escreveu mais de duzentas passagens engraçadas ocorridas com
ele e com colegas de trabalho durante transmissões esportivas. A publicação
será lançada no próximo dia 18, no Museu da Gente Sergipana. Em um bate-papo
com a equipe do GLOBOESPORTE.COM, Antônio Barbosa relembrou com bom humor
alguns destes momentos marcantes da carreira.
- Na verdade sou um cara que gosto muito de dar risadas e,
ao longo da carreira, fui vivenciando muitas dessas situações engraçadas,
muitos destes micos, e sempre contava durante as viagens, para rir e
descontrair o pessoal. Aí alguns amigos me incentivaram a reunir esses causos e
escrever um livro, foi isso que eu fiz. Não pedi autorização para citar o nome
de ninguém. Espero que as pessoas citadas entendam que a intenção não é
ridiularizar ou humilhar ninguém, e sim homenagear todos que vivenciaram essas
histórias - disse o narrador.
O colecionador de 'estórias' tem história no rádio
esportivo. Em Aracaju, trabalhou em todas as emissoras AM, além de ter
passagens por rádios de Pernambuco, Alagoas e pela Tupi, do Rio de Janeiro.
Durante a trajetória nas ondas do rádio, ganhou a fama de o 'Rei da Dublagem'.
Muitas vezes ele não ia ao estádio. Narrava os jogos do estúdio, ouvindo a
narração de um outro locutor presente no campo e reproduzindo os lances em sua
própria versão, situação que lhe rendeu boas passagens registradas no livro.
Em uma delas, no jogo entre CRB e Sergipe, no Estádio da
Pajuçara, na década de 70, ele estava no estúdio da Rádio Atalaia ouvindo o
locutor que trabalhava no escrete concorrente.
- Na época, a rádio que eu trabalhava passava por algumas
dificuldades financeiras, por isso não ia para os jogos distantes e tinha que
fazer essa 'dublagem'. Ouvia o narrador concorrente e ia fazendo a minha
narração. Aí, em um certo período da transmissão o locutor falou: 'somos a
única rádio sergipana que veio a Maceió fazer este jogo'. No calor da emoção,
não aguentei e respondi no ar: 'é mentira sua, nós também estamos no estádio
fazendo o jogo'. Acho que os meus ouvintes ficaram sem entender nada (risos).
Em outra ocasião, a rádio que eu ouvia saiu do ar e eu fiquei sem informação
nenhuma para narrar. Tive que improvisar e fiquei rezando para não acontecer
nenhum gol até a transmissão deles voltar ao normal.
Rei do duplo sentido e dos bordões.
Outra marca conquistada pelo animado locutor é a de fazer
perguntas de duplo sentido para seus repórteres e entrevistados. Qualquer um
mais distraído poderia cair em uma das suas.
Certa vez, ao entrevistar um veterano goleiro do Sergipe em
um programa esportivo, Barbosa soltou a pergunta capciosa: "Ô João, quando
um atacante surge em sua frente para marcar o gol, você prefere pegar quando
ele coloca devagarzinho ou quando dá um cacete"?
Em outra ocasião, quando o técnico Edmilson Santos foi
demitido do Sergipe, ele questionou o profissional se estaria tranquilo, mesmo
desempregado. Ele respondeu: "sim, tenho meu patrimônio, sou treinador
porque gosto, não tenho que me preocupar financeiramente". O 'ardiloso'
Barbosa mandou a pegadinha: "quer dizer então que hoje você está vivendo
do que ganhou atrás"?
- Gosto muito de usar o duplo sentido nas minhas
transmissões. Isso aproxima muito o ouvinte, que se diverte com as brincadeiras
e sempre fica esperando uma tirada. O duplo sentido também deixa o entrevistado
mais à vontade, mais solto para responder as outras perguntas. Ajuda a
descontrair- revela Barbosa.
Os bordões também são uma especialidade do narrador, alguns
de duplo sentido também: "meteu, entrou, é gol..." é um dos mais
famosos. Outro bastante curioso acontece no grande momento do futebol, que
sempre é narrado de forma multiplicada: "gol, gol, gol, gol, gol, gol,
gol, gol, gol, gol, gooooooooooooooll"!
- Essa narração de gol virou a minha grande marca. Todo
mundo pede e comenta sobre ela quando me encontra. Mas o legal é como ela
surgiu. Foi totalmente por acaso. Uma vez fui narrar um gol e engasguei, por
isso, até pegar no tranco, narrei gol três vezes: "gol, gol, gol..."e
depois continuei. Na hora ninguém percebeu que eu havia engasgado. No outro
dia, algumas pessoas me abordaram e falaram que haviam gostado do estilo da
narração do gol, aí pegou e não parei mais de narrar assim- lembra.
Na longa trajetória de rádio, Antônio Barbosa não colecionou
apenas "causos", mas grandes coberturas esportivas também, como as
das Copas de 86, 90 e 98. Em um dos Mundiais, ele viveu uma situação até
engraçada, mas principalmente dramática.
- Este episódio aconteceu na Copa de 1990, na Itália. Eu
tinha feito um jogo em Bari e fui para Roma com alguns colegas de trabalho.
Fomos a um restaurante jantar e pedi camarão. Mas reforcei com o garçom que sou
alérgico a camarão de água doce e só posso comer os de água salgada. Mas ele
não atentou para isso. Uma hora e meia depois de comer o 'bicho' comecei a
passar mal e a garganta fechou. Pedimos socorro e fui levado ao hospital na
ambulância. Foi dramático, mas engraçado também. João Saldanha morreu durante
aquela Copa, aí o pessoal ficou pegando no meu pé dizendo que foi um
comentarista e depois quase um narrador - concluiu Antônio Barbosa, que disse
já estar pensando em uma segunda edição do livro.
- Deixei muitas histórias de fora, durante a publicação
aconteceram outras também. O rádio é muito dinâmico e acontece muitas coisas
engraçadas. E isso é que é divertido. Não demora muito e eu já terei material
suficiente para mais um livro (risos) - brincou o radialista.
Fotos: João Áquila
Texto e fotos reproduzidos do site:
globoesporte.globo.com/se
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