segunda-feira, 15 de julho de 2013

Antônio Barbosa Lança o Livro: "Pagando Mico no Rádio"



Publicado por globoesporte.com, em 13/07/2013.

Com 51 anos de carreira, narrador lança livro relatando 'micos' no rádio.

Conhecido como 'Camisa 10 do Rádio', divertido locutor esportivo colecionou situações engraçadas dele e de alguns colegas de profissão
Por Thiago Barbosa.

Imagine um locutor esportivo narrando um pênalti em favor do seu time de coração. No calor da expectativa de ver o gol confirmado, ele solta o palavrão: "Zazir vai para cobrança! Correu...bateu...Oh, p***, pra fora"!! Pense num destemido repórter, que noticia as coisas erradas que acontecem em um clube e ganha a antipatia de jogadores e treinador. Após um dos jogos desta equipe, ele vai aos vestiários para fazer as entrevistas. Lá, percebe que o clima não está bom para o seu lado e diz no ar: "Se a qualquer momento eu deixar de falar, é porque 'piquei' o microfone na cara de um corno deste aqui que está me cercando". Vislumbre também outro empunhador de microfone que, ao querer atestar que não houve um gol, dispara: "dou o meu C*** se essa bola entrou". As passagens fazem parte do folclore do rádio esportivo sergipano, cuidadosamente catalogadas e recontadas em livro pelo narrador e apresentador Antônio Barbosa, que completa 51 anos de carreira em 2013.

No livro Pagando Mico no Rádio, o 'Camisa 10', como é conhecido no meio, escreveu mais de duzentas passagens engraçadas ocorridas com ele e com colegas de trabalho durante transmissões esportivas. A publicação será lançada no próximo dia 18, no Museu da Gente Sergipana. Em um bate-papo com a equipe do GLOBOESPORTE.COM, Antônio Barbosa relembrou com bom humor alguns destes momentos marcantes da carreira.

- Na verdade sou um cara que gosto muito de dar risadas e, ao longo da carreira, fui vivenciando muitas dessas situações engraçadas, muitos destes micos, e sempre contava durante as viagens, para rir e descontrair o pessoal. Aí alguns amigos me incentivaram a reunir esses causos e escrever um livro, foi isso que eu fiz. Não pedi autorização para citar o nome de ninguém. Espero que as pessoas citadas entendam que a intenção não é ridiularizar ou humilhar ninguém, e sim homenagear todos que vivenciaram essas histórias - disse o narrador.

O colecionador de 'estórias' tem história no rádio esportivo. Em Aracaju, trabalhou em todas as emissoras AM, além de ter passagens por rádios de Pernambuco, Alagoas e pela Tupi, do Rio de Janeiro. Durante a trajetória nas ondas do rádio, ganhou a fama de o 'Rei da Dublagem'. Muitas vezes ele não ia ao estádio. Narrava os jogos do estúdio, ouvindo a narração de um outro locutor presente no campo e reproduzindo os lances em sua própria versão, situação que lhe rendeu boas passagens registradas no livro.

Em uma delas, no jogo entre CRB e Sergipe, no Estádio da Pajuçara, na década de 70, ele estava no estúdio da Rádio Atalaia ouvindo o locutor que trabalhava no escrete concorrente.

- Na época, a rádio que eu trabalhava passava por algumas dificuldades financeiras, por isso não ia para os jogos distantes e tinha que fazer essa 'dublagem'. Ouvia o narrador concorrente e ia fazendo a minha narração. Aí, em um certo período da transmissão o locutor falou: 'somos a única rádio sergipana que veio a Maceió fazer este jogo'. No calor da emoção, não aguentei e respondi no ar: 'é mentira sua, nós também estamos no estádio fazendo o jogo'. Acho que os meus ouvintes ficaram sem entender nada (risos). Em outra ocasião, a rádio que eu ouvia saiu do ar e eu fiquei sem informação nenhuma para narrar. Tive que improvisar e fiquei rezando para não acontecer nenhum gol até a transmissão deles voltar ao normal.

Rei do duplo sentido e dos bordões.

Outra marca conquistada pelo animado locutor é a de fazer perguntas de duplo sentido para seus repórteres e entrevistados. Qualquer um mais distraído poderia cair em uma das suas.

Certa vez, ao entrevistar um veterano goleiro do Sergipe em um programa esportivo, Barbosa soltou a pergunta capciosa: "Ô João, quando um atacante surge em sua frente para marcar o gol, você prefere pegar quando ele coloca devagarzinho ou quando dá um cacete"?

Em outra ocasião, quando o técnico Edmilson Santos foi demitido do Sergipe, ele questionou o profissional se estaria tranquilo, mesmo desempregado. Ele respondeu: "sim, tenho meu patrimônio, sou treinador porque gosto, não tenho que me preocupar financeiramente". O 'ardiloso' Barbosa mandou a pegadinha: "quer dizer então que hoje você está vivendo do que ganhou atrás"?

- Gosto muito de usar o duplo sentido nas minhas transmissões. Isso aproxima muito o ouvinte, que se diverte com as brincadeiras e sempre fica esperando uma tirada. O duplo sentido também deixa o entrevistado mais à vontade, mais solto para responder as outras perguntas. Ajuda a descontrair- revela Barbosa.
Os bordões também são uma especialidade do narrador, alguns de duplo sentido também: "meteu, entrou, é gol..." é um dos mais famosos. Outro bastante curioso acontece no grande momento do futebol, que sempre é narrado de forma multiplicada: "gol, gol, gol, gol, gol, gol, gol, gol, gol, gol, gooooooooooooooll"!

- Essa narração de gol virou a minha grande marca. Todo mundo pede e comenta sobre ela quando me encontra. Mas o legal é como ela surgiu. Foi totalmente por acaso. Uma vez fui narrar um gol e engasguei, por isso, até pegar no tranco, narrei gol três vezes: "gol, gol, gol..."e depois continuei. Na hora ninguém percebeu que eu havia engasgado. No outro dia, algumas pessoas me abordaram e falaram que haviam gostado do estilo da narração do gol, aí pegou e não parei mais de narrar assim- lembra.

Na longa trajetória de rádio, Antônio Barbosa não colecionou apenas "causos", mas grandes coberturas esportivas também, como as das Copas de 86, 90 e 98. Em um dos Mundiais, ele viveu uma situação até engraçada, mas principalmente dramática.

- Este episódio aconteceu na Copa de 1990, na Itália. Eu tinha feito um jogo em Bari e fui para Roma com alguns colegas de trabalho. Fomos a um restaurante jantar e pedi camarão. Mas reforcei com o garçom que sou alérgico a camarão de água doce e só posso comer os de água salgada. Mas ele não atentou para isso. Uma hora e meia depois de comer o 'bicho' comecei a passar mal e a garganta fechou. Pedimos socorro e fui levado ao hospital na ambulância. Foi dramático, mas engraçado também. João Saldanha morreu durante aquela Copa, aí o pessoal ficou pegando no meu pé dizendo que foi um comentarista e depois quase um narrador - concluiu Antônio Barbosa, que disse já estar pensando em uma segunda edição do livro.

- Deixei muitas histórias de fora, durante a publicação aconteceram outras também. O rádio é muito dinâmico e acontece muitas coisas engraçadas. E isso é que é divertido. Não demora muito e eu já terei material suficiente para mais um livro (risos) - brincou o radialista.

Fotos: João Áquila

Texto e fotos reproduzidos do site: globoesporte.globo.com/se

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