segunda-feira, 8 de abril de 2013

Da história do rádio em Sergipe: a vida de Evenilson Santana


Publicado no Jornal da Cidade.Net, em 27/03/2011.

Da história do rádio em Sergipe: a vida de Evenilson Santana
Por: Osmário Santos

Evenilson Santos Santana nasceu a 23 de agosto de 1972, na cidade de Aracaju/SE. Seus pais: Edson     Santana e Geilza dos Santos Santana.

Seu pai em sua vida de operário, chegou ao cargo de contramestre na indústria Ribeiro Chaves - Fábrica de Tecidos Confiança -, onde se aposentou. Dele o filho aplica em vida a honestidade. “Ele sempre me dizia: ‘Meu filho, só queira o que é seu’. Assim procuro agir”.

Sua mãe teve oito filhos: Evenilson, Everton, Gláucia Regina, Graziele Cristina, Glaciene, Eder, José Emerson (faleceu aos 16 anos vítima de bala perdida)  e Iara, que morreu nos primeiros meses de vida. Também foi operária da Fábrica de Tecidos Confiança e só estudou até a 4ª série. Evenilson diz que sua mãe é dona de casa prendada, que gosta de fazer com todo capricho os afazeres domésticos e artesã por excelência. Dela o filho destaca sua história de luta para ajudar o esposo a criar os filhos, seu lado de mulher guerreira e de fibra. “Sem renda fixa, sempre se virou. Seja vendendo doces caseiros ou as bonecas de pano que fazia. Apesar das dificuldades, sempre me incentivava a estudar: E dizia: ‘Quem quer ser alguém na vida tem que estudar’. Tenho a felicidade de ter meus pais vivos”, acrescenta.

Relata que sua infância foi de menino de origem humilde e de poucas oportunidades enquanto criança. “Meus brinquedos eram sempre caseiros. Eu mesmo fabricava ratoeiras para pegar guaiamus, armadilhas para capturar, e/ou, caçar passarinhos,  patinetes  de ‘rolimãs’ (rolamentos) e sem falar das partidas de futebol na pracinha do bairro Amintas Jorge. Como morava, e ainda moro, quase à margens do rio Sergipe, no bairro Industrial, a pescaria era uma das atividades mais comuns. Seja de linha de fundo ou de rede, lá estava juntamente com meu pai e irmãos. Hoje, quando posso, pratico a pescaria por diversão. Antes, devo admitir, ajudava e muito na alimentação diária”, explica.

Pelas poucas condições financeiras o “brechó” (lixeira da Fábrica Confiança) era sempre o seu companheiro de todos os dias. “Pegávamos punga no trator da fábrica (mesmo contra a vontade de meu pai) até o terreno onde hoje existem casas, próximo à ponte Aracaju/Barra. Era nele que eu e meus irmãos catávamos cobre e alumínio para vendermos no sucatão”. 

“A grana ajudava um bocado. Afinal, só tínhamos direito a uma roupa nova e um par de tênis por ano, sempre que meu pai recebia o 13º salário da fábrica. Daí, partíamos para o camelô e a frase: “Diga moço”, era ouvida de uma ponta a outra nos corredores por onde passávamos. A coisa só foi melhorando quando por um esforço pessoal da minha mãe, já na adolescência, fui inserido em um programa de “Menor aprendiz” do Nutrac e iniciei um estágio na ex-Telergipe aos 16 anos”.

Fez todo o seu primeiro grau, da 1ª a 8ª série, na Escola Estadual José Augusto Ferraz, hoje fechada sem previsão de reforma. Das professoras, lembra-se de Dona Gessy, Luizela, Graça, Aída e Osvaldina, além do pulso firme da diretora, já falecida, Terezinha Carvalho, mãe da colega Nazaré Carvalho. “Sempre fui comportado, mas lembro-me certa vez em que ela, Dona Terezinha, me obrigou a levar para casa uma carteira quebrada para que o meu pai a consertasse. Morri de vergonha ao sair com aquelas duas partes da carteira pela rua, com a ordem que só entraria na escola com a minha mãe e as peças ajustadas. Sei que não fiz aquilo, mas a turma estava bagunçando enquanto a professora havia saído. No canto da sala estavam as carteiras quebradas. Ela, ao passar pelo corredor e me vir entrar com medo, pensou que eu havia desmantelado o assento”, risos. A professora Osvaldina saiu em minha defesa. O mesmo fez minha mãe ao me levar no colégio. Mesmo assim, aprendi muito com Dona Terezinha. Era a rigorosidade em pessoa, mas hoje entendo. Era pelo bem da instituição e dos alunos. Todos os dias tínhamos o momento de civismo e oração antes de irmos para a sala”, relembra o radialista.

Evenilson fez o segundo grau – antigo científico – no Colégio Estadual Atheneu Sergipense. Dos professores, destaca o de Geografia, Ednil, justificando que ele tinha um mundo inteiro, geograficamente, na cabeça. Do mesmo modo, o professor Antônio, de Biologia.
  
Apesar de gostar futebol, desde o Augusto Ferraz até o Atheneu dedicou-se ao handebol. Primeiro com a professora Renildes, depois com Jorge Bico Duro. “Bons tempos de Atheneu” (risos).

Evenilson Santana tentou fazer o curso de Eletrotécnica na antiga Escola Técnica Federal de Sergipe, agora IFS – Instituto Federal de Sergipe, mas não passou no teste de seleção. Só longos anos depois, já como funcionário da Telemar, concluiu o curso de Eletrônica.

Como desde cedo foi orientado a manter princípios básicos da moralidade por partir da família, seus conceitos melhoram quando assume compromissos com Deus e a Igreja Católica Apostólica Romana. “Fui membro de grupos religiosos, Renovação Carismática e principalmente do Grupo Musical Anuncia-me, da Paróquia São Pedro Pescador. Em 1995 chegamos a gravar até um disco, o LP “Mais Forte”, sob o arranjo musical do maestro Sérgio Teles. “Aprendi muito sobre Deus, virtudes e a vida. Lições que pretendo levá-las comigo para onde eu for. Só fui mais arisco na época da faculdade. Nossa! “Nunca esquecerei”, exclama. “Lá também fiz amigos. Lá muitas portas se abriram e os horizontes de conhecimentos se ampliaram”, completa.

Só consegue entrar na faculdade por volta dos 27 anos. “Eu já era funcionário da Telergipe, que depois se tornou Telemar e agora Oi, onde trabalhei cerca de dez anos, entre estágio e funcionário efetivo. Atuei como telefonista, consultor de negócios (área empresarial), gestor de contratos e supervisor de serviços”. Quando veio o processo de privatização surgiu a necessidade de aprimoramento de conhecimento e de fazer uma graduação para se manter competitivo dentro da empresa. Com  o incentivo da própria Telemar, iniciou o curso de Administração na Faculdade São Luiz de França. Dois anos depois foi demitido da empresa, mas continuou seu percurso acadêmico e conseguiu concluir o curso.

O rádio virou fascínio ao conhecer o primeiro estúdio da antiga FM Jornal. “Os locutores da época eram Davi Leite, Joe Feitosa, Tony Chocolate, Victor Amaral, Valdec Oliveira, Ronaldo Moreira, o falecido Serginho Dantas e Rísia Rodrigues, “pra mim, uma das melhores comunicadoras”. “Eu adorava ganhar brindes só pra desfrutar de alguns poucos instantes naquele estúdio. Depois me tornei um “piolhinho de rádio” mesmo. Eu participava de quase todos os programas só para ganhar brindes e ir conhecer os estúdios”.

Diante da sua empolgação pelo rádio, aguardou o curso pelo Sindicato das Radialistas e o que fez foi o último daquela época em Sergipe, já que a Universidade Federal de Sergipe abria naquele momento o curso universitário. “O presidente do Sindicato era Carlos Rodrigues. No meio de 400 concorrentes, fiz a seleção, passei e fiz o curso com mais 60 colegas. Foram cerca de quatro meses de estudo. Concluímos no ano de 1993. Entre os que se formaram comigo recordo-me da deputada Susana Azevedo, do ex-vereador Gilvan Melo, professora Marlene Calumbi, Paulo Jr., Washington Nascimento, Elmo Siqueira e Ceiça Dias”, diz.

Devidamente habilitado, só consegue trabalhar no rádio sergipano depois do apoio do companheiro Rosalvo Nogueira, que o lançou no mercado. “Primeiro, permitindo que eu lesse as cartinhas dos ouvintes no programa dele, “Vida Nova”, aos domingos, na rádio Cultura. Depois, ao se indicar para a equipe de esportes da mesma emissora, onde mais tarde se tornou cooperado. “A Cultura foi não só para mim, como outros colegas de profissão, uma verdadeira escolinha do rádio. Fiz grandes amigos, aprendi muito e só depois fui contratado pela emissora como locutor do programa Ponto de Encontro, das 20h à meia-noite”.

Evenilson conta que durante o dia trabalhava como telefonista e locutor do Shopping Riomar. Nove meses depois deixei os dois empregos após passar no concurso da Telergipe. Mesmo na ex-estatal, mantive a atividade radiofônica na equipe de esportes. Atuei como plantonista, repórter e narrador. Ao longo deste tempo – dez anos e meio –, além da Cultura, atuei nas equipes esportivas das rádios Liberdade AM, 930 e Jornal AM 540.

Ao deixar a Telemar, em maio de 2002, foi convidado para montar o Departamento Comercial da Rádio Cultura diante da larga experiência comercial da antiga empresa somada com a da comunicação. “Desde quando comecei no rádio, assim como tantos, fui e sou vendedor de espaços publicitários nas emissoras”.

“Em 2002, após estruturarmos o setor e superarmos a expectativa dos resultados, não pude mais permanecer, já que queriam que eu abrisse uma empresa para facilitar meu recebimento de salário. Como na oportunidade não aceitei, fui demitido. No mês seguinte, comecei a trabalhar na Liberdade FM como locutor, onde permaneço até hoje. Em seguida fui convidado por Messias Carvalho para, além do horário da tarde na FM, integrar a equipe dele como repórter na TV Caju no programa Liberdade Sem Censura”.

“Eu nunca havia trabalhado em TV. A primeira experiência foi nas eleições daquele ano, 2006. Apenas me
deram o cinegrafista e me mandaram para a rua atrás de matérias (stand ups). Provei que era capaz, fui efetivado e permaneci na emissora até meados de 2009, quando ela começou a entrar em crise, deixando comigo uma pendência trabalhista, hoje já resolvida”.
Nos dois últimos anos de TV Caju passei a dar aulas de Marketing na faculdade onde estudei. Sempre intercalando com os horários livres, pela manhã ou noite. Ainda em 2009, fui convidado para ser repórter da TV Atalaia, onde permaneço até agora. Aqui vale um capítulo à parte.

“Minha estreia na TV aberta trouxe preocupação ao Sindicato dos Jornalistas, através do presidente George Washington, que em meu segundo dia de trabalho enviou um documento à direção de Jornalismo pedindo a minha saída do ar. A alegação era de que eu não era jornalista graduado. E como já explicado anteriormente, de fato, não o sou, mas sou radialista com a devida DRT e curso promovido pela entidade legal. O que me dava o direito de permanecer – vide lei do radialista. Não se contentando, denunciou o caso à Delegacia Regional do Trabalho. Após algumas semanas de coletas de informações, reuniões na DRT, intervenção do Sindicato dos Radialistas, da Associação das Empresas de Radiodifusão e do setor jurídico da TV Atalaia, minha frustração foi superada com a força da lei. O delegado regional do Trabalho na oportunidade avaliou a ‘denúncia’ do Sindijor como infundada. O que me fez permanecer no ar até agora.

Direito garantido a qualquer outro radialista em todo o território nacional. Independente da profissão do jornalista ter sido extinta ou não! Creio que foi só um momento infeliz do sindicato”, relata.

“Embora eu não tenha feito jornalismo numa faculdade, o meu aprendizado é da escola da vida, com o apoio dos amigos que fiz por onde passei e atuo. Sobre TV, especificamente, me refiro às TV Caju e Atalaia”.

“O rádio e a televisão para mim são verdadeiras paixões. Tudo, além de dom de Deus, foi aprimorado com técnica e dedicação. O que mais me encanta é o efeito. O resultado do trabalho. Às vezes imagino: mesmo que poucas pessoas estejam me ouvindo ou me assistindo, se elas estiverem tirando algum proveito do meu trabalho, já valeu”.

Para Evenilson, comunicar é fazer-se companheiro de alguém, é formar opinião ou opiniões. É valorizar muito mais o ser que o ter. “Em todo caso, devo admitir: a troca de experiência em sala de aula como professor é também  algo extremamente fascinante”.

Considera esta uma das melhores fases da vida profissional, porém, procura sempre estar com a cabeça nas nuvens, mas, com os pés no chão. “Haja o que houver, quero sempre me lembrar desta frase: há três coisas que não voltam atrás: a palavra pronunciada, a flecha lançada e a oportunidade perdida”.

“Apesar da correria de sempre, procuro dedicar o máximo de tempo à minha família (pais e irmãos).

Principalmente àquelas pessoas que precisam me compreender mais de perto: minha esposa Joiciane e minha filha Jhuly Êmily, de quase quatro anos.

Foto e texto reproduzidos do site: 2.jornaldacidade.net/osmario-leitura

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