Mitos do Rádio
Por José Matos
Eu era garoto quando as ondas do rádio começaram a me
fascinar. Na época, o receptor de rádio era para as pessoas mais abastadas, nem
todas as casas tinham aquele aparelho mágico, em que se ouvia programas
musicais , show de calouros, reclames (propaganda) e as vozes dos locutores.
Cada um com o seu timbre, e todo o `cast` tinha uma direção artística que
obedecia ao padrão do rádio da época.
Deixava-me curioso as casas que possuíam rádio, o aparelho
quando não estava em uso, era coberto com uma capa de pano branco, e em cima, o
retrato do casal - dono da casa, quando não, da sagrada família: Jesus, Maria e
José ou o retrato de um homem louro, cabelos compridos, olhos azuis com o
coração fora do peito. Uma certa feita, perguntei a minha mãe curioso quem era
ele, porque eu o via em mais de uma casa. Ela me respondeu que era o coração de
Jesus. Naquela época maioria da população era católica.
Retornando às ondas do rádio, lá em casa, quando compramos
um aparelho de rádio de segunda mão, de caixa plástica, vez por outra, ficava
rouco e tinha que tomar alguns tapinhas para limpar a voz. Cedo, acordava com o
rádio ligado e ouvia o programa do "Caboclo Jeremias" apresentado
pelo saudoso Carlito Melo. Não sei bem se na PRJ6 Rádio Difusora ou se na ZYM21
Rádio Jornal ou na Rádio Liberdade a ZYM20 ( todas mudaram de prefixo e
endereço).
O que imaginava naquela época eram duas pessoas que
apresentavam o programa o locutor Carlito Melo, e o Cabloclo Jeremias que vinha
da roça, para apresentar o programa juntos. Longe de pensar que era a mesma
pessoa. Em outro horário, lembro-me de que Carlito Melo apresentava o programa
`Carrossel da Alegria` e falava no ritmo dos narradores de corrida de cavalos
do jóquei. Era um disc jockey de primeira linha, não conheci ninguém melhor.
Era uma voz rápida, porém cadenciada. Recheada de um timbre vocal privilegiado.
quero afirmar isso, com a permissão dos grandes disc jockeis do rádio sergipano
que foram muitos.
Voltando a nossa atenção para o Caboclo Jeremias, ele tinha
a voz do homem do campo pouco cansada com a sabedoria de um homem maduro
contador de `causos`, crítico das coisas da capital, do sertão tão sofrido, que
na sua ótica de homem vivido algumas coisas estavam distorcidas. Sua crônica
matuta era diária, recheada de humor que se traduzia para uma sabedoria ímpar.
Conversava com o Carlito, respondia a suas perguntas e em momento algum havia
erro sonoplástico, ou displicência técnica vocal a ponto de denuciar que ele e
o Carlito Melo eram uma só pessoa .
Lamento não dispor de mais informações para passar aos
leitores, a respeito desse artista do rádio Sergipano, que por muito tempo
ensinou, divertiu e formou opinião no rádio de Sergipe. Na minha lembrança, o
Carlito dizia diante dos microfones da emissora que o caboclo Jeremias era o
"Eterno viajante do pensamento". Inesquecível para os ouvintes de
ontem.
Reproduzido do site: ultimahoranews.com.br
Lembro como ele encerrava o programa."Nós já brinquemo muito tempo e agora vamo parar, pessoá toma café que é hora de trabaiá. Os caboco vão pra roça, as Muié vão conzinhá, os fio macho pra escola e as fia feme costurar. Até manhã minha gente, vou embora pode crê, amanhã eu venho de novo pro mode brincar mas vosmicê. Bom dia pessoá que o jerimia vai se arrancá!" As palavras estão grafadas tal como ele falava. Doces recordações.
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